quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Filosofia e Literatura nos escritos do Dostoiévski


 A influência do pensamento filosófico nas demais fontes de conhecimento é indubitável. Talvez seja nisso que consiste a grandeza da estrutura filosófica. Não existe limite para a filosofia. A virtude da filosofia se exterioriza em sua encantadora desenvoltura em qualquer espaço intelectual - A arte por exemplo, Filosofia tem um pouco de arte e a arte tem um pouco de filosofia. Pensar dessa forma é mais que pensar grande, é reconhecer a elegância do domínio da Filosofia em nossas vidas. E falando em arte que tal pensarmos a relação entre filosofia e literatura que perpassa as paredes frias dos limites do conhecimento? Os saberes se interrelacionam, se completam. Pois bem, podemos presenciar flagrantes diálogos entre filosofia e literatura nos romances do mestre Dostoievski. A obra dostoievskiana explora o lado mais obscuro da personalidade humana.  Autodestruição, a humilhação e o assassinato, além da analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio; são temas trabalhados de forma mais lúdica pelo gênio russo. Seus escritos são chamados por isso de "romances de ideias", pela retratação filosófica e atemporal dessas situações. O modernismo literário e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciados por suas ideias. Um autor intrigante sem dúvidas. Fiódor Dostoiévski (1821–1881) foi um dos maiores escritores da literatura russa, sendo considerado o fundador do existencialismo, mais frequentemente por Notas do Subterrâneo, descrito por Walter Kaufmann como a "melhor proposta para existencialismo já escrita".

"O existencialista, pelo contrário, pensa que é muito incomodativo que Deus não exista, porque desaparece com ele toda a possibilidade de achar valores num céu inteligível; não pode existir já o bem a priori, visto não haver já uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo; não está escrito em parte alguma que o bem existe, que é preciso ser honesto, que não devemos mentir, já que precisamente estamos agora num plano em que há somente homens. Dostoiévsky escreveu: "Se Deus não existisse, tudo seria permitido". Aí se situa o ponto de partida do existencialismo."  Assim falou o Filósofo JEAN PAUL SARTRE.

Com essas considerações testemunhamos um autor bem quisto não apenas na literatura, mas também acolhido pelo movimento filosófico denominado existencialismo. Contundente, é o mínimo que podemos pensar. Pois bem, vamos conhecer um pouco desse monstro do conhecimento humano.
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasce em 1821, em Moscou, filho de um médico, homem austero e autoritário, e de uma mãe doce, segundo seus biógrafos, que sofreu em silêncio o despotismo do marido avaro. Aos dezesseis anos, perde a mãe, vítima de tuberculose e dos ciúmes injustificados do marido que, a partir de então, refugia-se na província e no álcool. Fiódor, logo a seguir à morte da mãe, sofre de uma doença de garganta, uma afonia que deixará vestígios para toda a sua vida. Marcado pela solidão, no colégio era tido como desconfiado e tímido. Segue a Escola de Engenheiros Militares de São Petersburgo, à qual não parece se adaptar, mas é nesse período que conhece os clássicos da literatura mundial. Dostoiévski se apaixona de imediato pelos textos textos de Púshkin, Schiller, Byron, Shakespeare e Balzac. A sua primeira publicação deu-se com a tradução do romance de Balzac ‘Eugenie Grandet'. Quanto à publicação de seu primeiro romance, Pobres Gentes, foi recebido com grande entusiasmo, do crítico literário Vissarion Beleinski, inclusive.

 Quando seu irmão fica noivo, Fiódor se depara com um acontecimento que o marcará para toda a vida: A morte do seu pai. Que provavelmente foi assassinado pelos seus servos, como vingança pelo cruel tratamento que recebiam. Quando soube da morte de seu pai, o escritor sofreu uma convulsão epilética. (Dostoiévski iria padecer do mal da epilepsia até os seus derradeiros dias.) Nosso autor sai da Escola, ao final de seus estudos, é nomeado alferes, e sua vida, isento da tutela patema, segue um curso inteiramente livre, pelos teatros, concertos, casas de jogo, ruas, cidades. Começa a escrever e, um ano mais tarde, sai do ofício de alferes. Em 1847, veria sua carreira de escritor sofrer uma trágica interrupção quando passou a integrar o grupo liderado por Petrachevski (Círculo de Petrashevski), que se reunia para discutir acontecimentos políticos, literários, temas relacionados com o socialismo, a censura, a abolição da servidão, entre outros; onde aproveitam para fumar, beber, discutir literatura, política, criticando o regime e censurando o estado deplorável dos camponeses, da economia. A expectativa de Dostoiévski era otimista ao mesmo tempo que infantil acreditando que as ousadas revolucionárias não convinham à Rússia, esperando que o próprio czar realizasse as reformas necessárias, e tomando-o como “um pai para o seu povo”. Por esta razão, abandona este movimento, fundando com outros companheiros uma outra sociedade, mas são denunciados, e, em abril de 1849, é preso na fortaleza de Pedro e Paulo, onde aguarda julgamento. Após idas e vindas do processo, ele é finalmente julgado e condenado a quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, como presidiário, e depois mais quatro, como soldado raso. Mas o imperador, o mesmo que para o gênio russo deveria ser o pai do povo, deseja que seja dada uma lição aos conspiradores: os condenados serão colocados no patíbulo em praça pública, para serem fuzilados, serão atados aos postes, de olhos vendados, e verão alinhar-se na sua frente os pelotões de fuzilamento. Os soldados apontarão as espingardas e uma voz gritará “Fogo!”, mas os tiros não chegam a partir. Na voz do General Rostóviev, se ouvirá a sentença : “Em sua inefável clemência, Sua Majestade, o czar, concede-vos a graça da vida...” Esses momentos de tamanha maldade estão descritos em Diário de um Escritor. Dostoiévski estava apenas com 27 anos, quando, na véspera do Natal de 1849, foi conduzido com outros condenados, em trenós descobertos, com o frio de vinte graus negativos, para cumprir a pena na Prisão de Omsk, na Sibéria. Sobre essa prisão e sobre tratamento desumano que era dispensado aos prisioneiros, Dostoiévski fez alguns comentários: 

“Imaginem um velho barracão de madeira em ruínas. No verão asfixiávamos com falta de ar e no inverno o frio dilacera-nos a carne. O soalho era todo esburacado e cheio de imundícies; escorregávamos e caíamos a cada passo. O gelo cobria totalmente as vidraças, de modo que mal se podia ler durante o dia. A água pingava constantemente do telhado, e havia corrente de ar glaciais em todo lado. Estávamos comprimidos uns contra os outros como arengues numa barrica. Mesmo quando acendiam o fogão com chamas de lenha seca, mal amornávamos (o gelo derretia a muito custo) e ficávamos como que envenenados pela fumarada. Era assim que vivíamos todo o inverno (...). Cobríamos com peles de carneiro muito curtas, que me deixavam as pernas a descoberto. Tiritava de frio toda a noite. Havia milhões de percevejos, piolhos e carochas”.

Não foram tempos fáceis, Dostoiévski assistiu a terríveis espancamentos e torturas, e de tudo o que presenciou e sofreu resultaria na sua narrativa sobre esses anos cruéis, que passariam a integrar o seu livro Recordações da Casa dos Mortos. Nessa obra inflamada por passagens amargas compreendemos a condição de um presidiário em Omosk, no convívio com criminosos condenados pelos mais diversos crimes, além dos presos políticos. vale lembrar que, Dostoiévski é o primeiro escritor a escrever sobre os campos de trabalhos forçados da Rússia czarista. Choca a muitos pelo realismo de seus relatos: homens presos pelos pés por correntes, imundícies, promiscuidades, castigos corporais - os presos eram surrados com chicote ou vara, que só cessavam com a ordem do médico da prisão, para daí serem levados aos hospital, até retornarem para o cumprimento do castigo a que foram condenados. O tempo no exílio não o faz produzir suas maiores obras, mas é aí que ele recolherá material para sua inspiração, vivendo entre criminosos, assassinos, ladrões, e as leituras da Bíblia, única fonte de acesso em quase todo o período. Em 1854, ao sair do presídio, é enviado como soldado para uma pequena cidade da Sibéria, conhecendo aquela que viria a ser sua primeira mulher, Maria Dimitrievna, mulher de temperamento exaltado, sentimental e fantasista, casada, a essa época, com um alcoolista, desempregado. É com Maria que ele encontrará o diálogo sobre literatura e artes, até que o seu marido é novamente empregado e transferido para outra cidade. Fiódor a vê partir e sabe, adiante, do envolvimento de Maria com o preceptor de seu filho, a quem irá encontrar, para fazê-lo desistir dela. Maria fica viúva, mas não se decide a casar com Fiódor. Em 1856, ele é promovido a oficial, Maria se decide e no ano seguinte se casam. Na noite do casamento, ele sofre um violento ataque de epilepsia. Sete anos depois, morre Maria de tuberculose, e ele assim dirá dela : “Ela, meu amigo, amou-me sem limites, e eu a amava também sem medida, e, contudo, não fomos felizes; mas embora tenhamos sido verdadeiramente desgraçados, devido ao seu estranho caráter, receoso e morbidamente fantasioso, nunca deixamos de nos querer, e quanto menos felizes éramos, mais apego tínhamos um ao outro... Era a mulher mais nobre, mais leal e generosa de todas que tenho conhecido...” no ano de 1859 retorna à Rússia. 

O imperador agora é Alexandre II, que inicia as reformas, sem, contudo, apaziguar os ânimos mais exaltados. ainda assim, nosso herói permanece na crença de que caberá ao czar realizar os caminhos por uma Rússia mais justa, tomando-o como pai do povo. Sua segunda viagem à Europa, ele a fará não com sua esposa, que está moribunda, mas em companhia de uma jovem de 16 anos, admiradora fiel de suas oratórias. Fiódor tinha, a essa época, cerca de 40anos de idade. Pede um empréstimo à Caixa de Socorros a Escritores Necessitados, planeja encontrar-se com Polina, mas desvia-se antes de chegar a Paris, detendo-se em Wiesbaden e aí perdendo todo o dinheiro... no jogo. Polina e ele ainda viajam, mas, no retomo por Wiesbaden, novamente Fiódor se detém e aí perde mais dinheiro, quase tudo o que levava. Pra piorar, seu irmão morre, deixando uma dívida que só poderá ser coberta com a publicação de todas as suas obras, e de mais uma inédita. 

Ele parte novamente em busca de Polina, que o recusa, volta para casa e vai ditar uma nova obra O Jogador, a uma estenógrafa de 20 anos de idade, uma moça modesta, moderna, medianamente instruída e inteligente, que cuidará de assegurar, a esse homem, o ambiente e as condições necessárias para realizar os seus mais belos trabalhos. As dívidas o levam para fora da Rússia por quatro anos, passados em diversos países da Europa, entre cassinos e obras literárias. Volta à Rússia, com dois filhos, e em 1881, aos 60 anos, com enfisema pulmonar e ainda com ataques de epilepsia, morre, deixando um grandioso acervo literário para as gerações póstumas. 



Por Claudio Castoriadis
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis
é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um doce ou uma solidão?



Neste pequeno espaço, de puro mistério, onde meu imaginário se contorce de amargura, sem a sobrecarga das minhas obrigações cotidianas, me debruço na mais sutil centelha de memória sem me aprisionar em meus devaneios egoístas e enfurecidos em busca de um sentimento último de consolo. Gostaria de, numa sequência de curtas lembranças explicar o motivo de minha amargura. Há uma semana e pouca horas eu fiz uma descoberta sobre minha pessoa que me abalou como nunca antes. Que descoberta seria essa vocês devem está se perguntando-, Eu sou um homem egoísta, um ser doente, desprezível, por que não afirmar o mais ignóbil de todos?... Sou um homem cruel. Sou um homem desagradável. E acreditem, isso me pesa, uma sobrecarga tal qual raramente me deparei em todo momento insólito da minha existência, mais real e mais verossímil de todas que posso suportar. Estou perturbado, há horas, nessa pequena sala, eu só faço andar e tentar esclarecer isso tudo para mim mesmo. É só o que faço andar e fumar um cigarro após o outro, andar, andar, andar...Santo Deus! Refrigera minha alma por que todo o meu horror remete justamente no fato de compreender tudo! Sou péssimo com palavras, ainda mais quando estou tão aflito. Porém, tenho que falar nem que seja da maneira mais medíocre possível. Eu sei que para muitos esse fato pode parecer ridículo, assim como sei que um sorriso desdenhoso se estampa no rosto de muita gente que já me conhece. Pois bem, eis minha história.

 Exatamente umas duas semanas de tardinha onde eu costumava ir passear com meu cão até o velho lago em lugar bastante frequentado por pessoas idosas e mulheres desocupadas- acho que meu sentimento por elas são os mais negativos possíveis- todas almas abortadas, mal amadas. Pessoas ridículas. Enfim, foi nesse lugar peculiar que recebi uma triste noticia; Um funcionário meu acabara de se matar. Ele havia saltado nas aguas cobertas pela ponte Golden Gate, que corta a baía de São Francisco, apesar de ser  um grande ponto turístico americano, é também o lugar do mundo com o maior índice de suicídios. Sua rotina mórbida revela uma sinistra parte do cartão-postal que eu não conhecia até o momento. Além do movimento de carros, pedestres e turistas, pessoas saltam dela em busca do desconhecido. Para mim poderia ser apenas mais um caso no meio de tantas estatísticas. Mas naquele dia se trava de um funcionário da minha empresa. A Golden Gate Bridge é a ponte localizada no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que liga a cidade de São Francisco a Sausalito, na região metropolitana de São Francisco, sobre o estreito de Golden Gate. Principal cartão postal da cidade, uma das mais conhecidas construções dos Estados Unidos, e é considerada uma das Sete maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis. É uma obra de arte, não foi a toa que resolvi instalar minha empresa imobiliária na região metropolitana de são Francisco. Perdão... Minhas estratégias administrativas não vêm ao caso e sim o fato de um funcionário da minha empresa ter tirado de forma tão estupida a própria vida. Mas sabe a maior irônia nisso tudo? A depauperação do meu angustiante dispêndio?  Eu não dava a mínima para ele. Sim! Exatamente. Minha relação com ele era apenas de um casual “bom dia” e “tenha um ótimo dia chefe”. Certa vez Albert Camus relatou que o suicídio era um problema Filosófico verdadeiramente sério. Foi pensando nisso e na imagem  estética da minha empresa que fiquei deveras abalado com o caso desse jovem e fui investigar a vida do mesmo para tentar entender uma tragédia tão delicada e controversa.

O que mais me deixava intrigado era que ele não demonstrava transparecer qualquer melancolia. Era um funcionário exemplar- era o primeiro a chegar e o último a sair. Ganhava o suficiente para uma vida confortável. Era casado, tinha uma bela esposa e dois filhos um garoto de que já passava dos sete anos e uma menina recém nascida. Obtive essa informação através de uma outra funcionaria minha que se dizia única amiga dele. Eu até tentei manter contato com a sua esposa, mas não foi possível ela mudou de cidade depois do ocorrido. Mas eu não entendo, geralmente, os casos de suicídio são marcados por um traço peculiar: a solidão. Ele não era só. Era agraciado por uma linda família. Me sinto curvado por um peso e sentimento de covardia. Estou sobrecarregado. Algo poderia ter sido feito? Foi algo que falei? Afinal sou um homem de palavras desumanas com meus funcionários; algum tipo de corte salarial? Não encontro respostas, maldição, maldição... Por quer estou tão abalado? Pobre criatura. Ele era franzino, loiro, baixo, sempre desajeitado no trato comigo. Mas quem não ficava perturbado na minha presença? Visto que eu sou um calhorda, um fraco que tem prazer em humilhar, sim, sou um sádico.

Já está escurecendo, estou sentado aqui há horas. Todos os funcionários já se foram; quem diria agora o chefe é o último a sair de sua empresa. Chega de arrodeio... Vou direto ao ponto.

Sabem por que estou assim? Ontem pela manhã assim que cheguei em meu escritório a mesma funcionaria que era meu único vinculo com ele me relatou algo que me acertou como uma bofetada no rosto. Foram exatamente essas suas palavras: “o senhor lembra que na mesa dele sempre tinha doces espalhados entre pilhas de papeis? E que geralmente eram seis? Todo santo dia ele repetia esse ritual, chegava cedinho, dava bom dia há todos ao seu redor e tirava do bolço um punhado de doces. Como amiga eu tive a curiosidade de perguntar por que tal extravagância. E por quer tinha que ser sempre seis doces. Foi então que ele confessou baixinho no meu ombro: “na verdade minha estimada amiga sempre compro nove balas antes de vim ao trabalho sabe por quê? É minha forma de reconhecer as pessoas que admiro... três deixo com minha família, uma guardo pro nosso chefe e as demais distribuo entre vocês” Por falar nisso, ele sempre voltava com um doce pra casa. Ainda tenho um aqui, na minha bolça, o senhor quer? – não obrigado senhorita guarde.  Acredite é o mais sensato. 

"em memória de todas as almas solitárias" 


"A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade" 
-Nietzsche


Por Claudio Castoriadis

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sorriam ouvindo Nat king cole


Às vezes entre meus devaneios nostálgicos fico me perguntando quem não gosta de um bom de Jazz? Sim, uma boa música elegante. Um estilo tão revigorante tão dinâmico e instigante. Sim, muita gente deve gostar de Jazz. Posso até deduzir que mesmo os que não gostam admitem que a vida seria mais pobre se não existisse esse gênero musical. Afinal, Temos que admitir que tal estilo musical é uma ponte vital para outros gêneros, tais como o Blues, ou o Rock, por exemplo. Dito de outra forma, um bom Jazz interessa direta ou indiretamente a todos os amantes da música e da arte de um modo geral. 

Surgido nos Estados Unidos, o jazz fez com que a voz do negro norte-americano ganhasse o mundo onde o improviso é uma característica muito presente em sua essência- uma provocação para os teóricos musicais da época. E convenhamos, nesse sentido o jazz soube provocar com extrema audácia. Tendo em mente a abrangência do gênero, que tal nos detemos nesta simpática figura querida pelos vários apreciadores da música, exatamente, com vocês: Nat king cole. 

Não é preciso escavacar a bibliografia do genial Nat king cole para ter acesso a uma de suas obras mais belas a canção “Smile”. Originalmente cantada por Nat King Cole, tendo alcançado seu extasse em 1954. vale lembrar que a cantora Sunny Gale também regravou a canção, partilhando vendas com Cole. Foi também regravado pela filha de Cole, Natalie, que não fez feio em seu álbum de 1991.
 
Sorria, embora seu coração esteja doendo Sorria, mesmo que ele esteja partido Quando há nuvens no céu, você sobreviverá... Se você apenas sorri com seu medo e tristeza Sorria e talvezamanhã você verá o sol vir brilhando para você” tem como não se emocionar com uma letra dessas?  exuberante, uma poesia! Pois bem, mediante essa obra de arte o grande artista Nat King Cole dispensa comentários. Nathaniel Adams Coles, com todo seu esplendor foi certamente um dos melhores cantores e músico de jazz norte-americano- O apelido de "King Cole" veio de uma popular cantiga de roda inglesa conhecida como Old King Cole. Agraciado por uma voz marcante imortalizou várias canções, como: Mona Lisa, Stardust, Unforgettable, Nature Boy, Christmas Song, "Quizás, Quizás, Quizás", entre outras, algumas das quais nas línguas espanhola e portuguesa. Suas músicas geralmente românticas tinham um toque especial junto a sua voz associada ao piano, tornando-o assim um artista de grande sucesso. Por isso não demorou muito para que sua estruturada formação piano, guitarra e baixo ao tempo das big bands torna-se popular para trios de jazz. Outra virtude desse mestre da arte foi sua postura contra o racismo. Cole sempre lutou Cole sempre lutou contra o racismo, jamais cantando em plateias com segregação racial. Parecia tudo perfeito, tudo no seu lugar, mas como nem tudo na vida é um mar de flores infelizmente para tristeza de seus fãs Cole matinha um frenético hábito de fumar diariamente três maços de cigarro, fatalmente o cantor morreu vítima de câncer. Um de seus últimos trabalhos foi no filme Cat Ballou, onde canta a balada da personagem título, interpretada por outra grande figura Jane Fonda. Chorar? lamentar? Jamais, afinal um poeta não morre, ele adormece; por isso fica o recado para os amantes do Jazz: Sorriam com o Nat king cole.


Por Claudio Castoriadis 




quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Um velho amargurado


Tenho um humor antiquário é assim que vejo todos os humores. E os mesmos que fazem parte do meu meio penso da mesma forma, e respeito antes de mais nada. Nossos humores ou correlatos com a realidade não cessam de se aprofundar, cada um com sua peculiaridade. Cada um deles é de uma lúdica estupidez, uma insondável juventude, mas penso que é nosso humor que faz parte e contorna a vida em sua infínitude. É ele que faz nascer e enfatiza o instante. Por isso escrevo palavras sem sentido que se retratam nesse espaço tão revigorante que é o meu meio social. Salve a América, aleluia temos  uma esfera de comunicação tão rápida quanto nossos pensamentos, ou será que não existem, mas pensamentos rápidos? Mas nossa!!! Vejam- só faltou uma vírgula e teve uma letra em um lugar errado. Bora rir e fazer sempre o pior. Ou melhor!!! Para demonstrar meu humor infantil, Bora debochar, fazer pouco caso dos infortúnios alheios... Estou certo, nunca erro. É a busca da verdade que fundamenta a existência. Mas não tenho razão; quem tem a razão? Mas afinal, para que serve a razão?


Boa pergunta. Pertinente ao mesmo tempo que ridícula. Estaria sendo desagradável apontando discrepâncias no paradigma da humanidade? Santo Deus dos gentios, de qual paradigma mesmo estou me referindo? Sim, a razão, a mesma que defende a noção de progresso e justifica o domínio tecnocrático. Sim, por que de onde estamos não podemos voltar. Né verdade? Isso se chama evolução jovens estudiosos. Não existem limites? E o papel da ética perante a razão como fica? Pessoas estão passando fome enquanto burocráticas arrotam luxuria em seus apartamentos luxuosos e seguros; crianças estão nas ruas nos semáforos vendendo balas e sendo humilhadas enquanto intelectuais debatem cidadania em salas pilhadas por teóricos desprezíveis. Sabe aquelas modelos que aparecem lindas e exuberantes em casacos de pele nas passarelas? Espero que todos saibam o numero de animais que foram mortos para sustentar aquelas magricelas sem vida. Com o perdão da palavra, compreendo absolutamente essa minha moléstia e sei mesmo exatamente onde está o mal: em cada um de nós. O que torna nossa crueldade ainda mais estupida? É inteiramente vergonhoso, o sentido ignóbil da existência humana - a crença em uma razão como objeto de emancipação do tipo humano da sua essência ordinária. O velho Kant tinha razão: não existe bondade natural, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É bem verdade que, muitas vezes, tal pensamento me torturou por algum tempo, e de vergonha perdi o sono durante alguns meses. Mas quem se importa? Alguém deveria se importar? E a ética? Onde fica no meio de tantas coisas imundas? Pobre daquele que acredita em uma ética neutra das atrocidades humanas. Mas por que tanta mágoa no coração? Sim, provavelmente quem dispara tantas feridas argumentativas contem um espírito mal amado ou no mínimo cultiva despeito pela vida. Oh! Como eu estou fatigado e saturado! Mas senhores, não me arrependo da minha fala nem tão pouco serei indiferente a minha base argumentativa. Não se trata de retórica, mas de vida. Não sou canalha, não sou herói, nem mesmo uma pessoa boa. Apenas termino a existência no meu lugar sem chamar atenção conservando lembranças tão confortantes como um clima de outono.  Eu sou um velho amargurado.


Por Claudio Castoriadis

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Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Sobre o texto o Existencialismo é um Humanismo


O texto O Existencialismo é um humanismo, foi escrito por Sartre para explicar o existencialismo e defender-se de críticas feitas por deturpadores. Em um texto bem estruturado e sucinto respostas são colocadas sobre diversas críticas de seus opositores. No ano de 1946, Jean Paul Sartre profere uma elegante conferência cuja transcrição daria origem a uma das mais polêmicas e, mais debatida defesa do existencialismo.

 Na ocasião o existencialismo fora acusado de se inclinar a caminhos vedados em um destino onde a ação é descartada. Colocando assim o existencialismo em uma filosofia que a mesma é antípoda: uma filosofia contemplativa. Nesse ponto o texto alerta para um tipo de filosofia burguesa que o comunismo aponta no existencialismo com suas críticas. Uma outra crítica que pesou contra o existencialismo foi derivada da igreja católica. Nesse sentido foi usada como pretexto contra o existencialismo a deturpação do lado luminoso da natureza humana. Crítica especifica da senhorita da igreja católica Mercier. Mediante essas acusações compreendemos que as ideias que o Sartre tratou de se defender foram: a de haver negado a solidariedade humana, por considerar o homem um ser vivo e isolado e a incapacidade de retomar o altruísmo com o próximo.

 A crítica feita pela igreja foi uma descarada acusação de que o existencialismo nega a realidade e a seriedade dos costumes humanos. Crítica essa instaurada simplesmente por negar os mandamentos de Deus. As acusações foram tantas que o Sartre teve que delinear de forma clara e objetiva o conceito humanista do existencialismo. Que fique bem claro, ao contrário da crítica base que é imputada, de que o existencialismo enfatiza o lado negativo da vida humana, é preciso atentar que na verdade o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível e que declara que toda verdade e, por conseguinte toda ação implica uma subjetividade humana.

O texto também alerta para o modismo que circula em torno da palavra existencialismo. Em Várias artes do conhecimento humano o termo é utilizado como carro chefe. Onde tal Filosofia se destina exclusivamente aos técnicos e aos Filósofos. Porém, as complicações sobre o termo se deve a existência de dois tipos de existencialistas: o cristão defendido por Jaspers de confissão católica; e o ateu entre os quais se situa o Heidegger. Tendo esses dois pontos de vista o que de fato eles têm em comum é simplesmente a afirmação de que a existência precede a essência. Dito de outro modo é necessário partir da subjetividade.

Logo então temos uma crítica para o existencialismo cristão e para a Filosofia essencialista. Quando concebermos um Deus criador, este é visto como um artífice superior, e isso vale para qualquer doutrina que se considera, quer se trate de uma doutrina como a de Descartes ou como a de Leibniz. Até mesmo o ateísmo do século XVIII que elimina a noção de Deus, segundo a tradição, não suprime a ideia de que a essência precede a existência. Qual a grande questão pendente? O homem possui uma natureza. É nesse sentido que o existencialismo ateu representado por Sartre se transfigura de forma mais coerente. Ora, se Deus não existe deve existir um ser no qual a existência precede a essência, um ser livre, que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito e este ser é o homem, a realidade humana. Por isso, a existência precede a essência. Nada existe e pode existir a separar o sujeito de si mesmo. É o homem, que se escolhe: a sua liberdade é incondicional e ele pode mudar seu projeto original ou inicial a qualquer momento. A liberdade consiste na escolha do próprio ser. Assim o existencialismo sartreano afirma a realidade dos homens, através da consciência como liberdade. A essência do homem não precede sua ação, se o homem se faz justamente. Por tanto, o homem é aquele que se projeta no futuro, e tem essa consciência de estar se projetando no futuro. É o homem fruto de sua liberdade- Uma soma de suas escolhas.


Por Claudio Castoriadis 

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Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nietzsche em HQ


Michel Onfray lançar na França HQ da vida de Friedrich Nietzsche e defende o cartum para popularizar a filosofia. O filósofo criou em 2001 a Universidade Popular de Caën, com aulas grátis, abertas a todo tipo de público. A última novidade que acaba de produzir é uma biografia em quadrinhos de Friedrich Nietzsche (1844-1900), com a intenção de "construir pontes" entre a filosofia e mídia de massa.( Filosofia e Massa? isso não soa estranho meu caro leitor?) Os quadrinho ainda não têm data prevista para serem lançados no Brasil e resulta de parceria com o cartunista Maximilien Le Roy. O livro já é Best-seller na França, onde o gênero tem estatura de obra de arte.

Onfray também aborda a pergunta que não quer calar. O pensador que "matou Deus" e libertou o homem da metafísica foi o mesmo que forneceu o substrato ideológico do nazismo?( Ainda não acredito que essa problematica está rendendo) Muito popular na Europa até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Nietzsche caiu em desgraça após a ascensão de Hitler, quando passou a ser considerado um ideólogo "avant la lettre" do nazismo. Segundo Onfray, isso foi fruto de uma indecorosa manobra familiar. ( isso é fato) "Sua irmã [Elisabeth] era fascista e quis fazer de seu irmão o ideólogo de suas ideias políticas", diz. É da mesma opinião o biógrafo alemão Rüdiger Safranski, que está publicando no Brasil "Romantismo - Uma Questão Alemã". "A irmã dele falsificou sua biografia", afirma. Mas ressalva que Nietzsche também tinha culpa no cartório. "Ele não era inocente", ( e quem é) pois de fato tratou da "eliminação de formas de vida inferiores", ( onde ele leu isso?) lembra Safranski. Mas então por que ele era tão popular? Para o professor de filosofia italiano Domenico Losurdo a razão principal reside no uso do aforismo. (Será) Essa formulação curta e direta "atinge o leitor com uma imediatez fulminante", explica o autor da biografia "Nietzsche - O Rebelde Aristocrata", que também está sendo lançada no Brasil. Safranski partilha dessa opinião e acrescenta que seus insights "anteciparam a psicanálise". Já Onfray arrisca outra hipótese. No fundo, "Nietzsche propõe ao leitor a questão sobre como cada um, homem ou mulher, pode se tornar um super-homem". Mas avisa que isso, para o autor da "Genealogia da Moral", deveria ser uma decisão individual -e não um programa partidário.



Nota: Fonte: Marcos Flamínio Peres, Folha de São Paulo, Ilustrada, 20.06.10.



Acompanhe o blog do desenhista que ilustrou o roteiro de Onfray, Maximilien Le Roy – o mesmo que 
 descreve a HQ como o “cinema dos pobres”  http://maxleroy.blogspot.com/


Enfim caro leitor informação passada!! Quem tem boca fala o que quer e quem tem mãos? - Claudio Castoriadis 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Hannah Arendt e a problemática da razão



De todas as correntes filosóficas que tive acesso durante minhas pesquisas solitárias acerca do conhecimento humano devo confessar que aquelas que tinham como carro chefe a questão da liberdade como um direito do ser humano prenderam minha atenção de forma mais especial. Não é de hoje minha inclinação para determinada questão que é fonte de paixões e angústia na história do pensamento humano. Difícil pensar tal problemática sem lembrar a natureza humana que tende sempre em se autodestruir em um egoísmo ignóbil e hediondo. Segundo o Filósofo Sloterdijk, o humanismo fracassou em tornar o homem um ser culto, sofisticado e, por conseguinte civilizado. Faz sentido tal ponto de vista? Bem, se levamos em conta o intuito do movimento renascentista como qualificação do tipo homem poderíamos afirmar de forma categórica que sim. Basta lembrarmos as atrocidades ocorridas antes e após a primeira guerra mundial. E mais, basta uma breve reflexão da situação histórica de uma Europa deformada, física e moralmente, por estúpidas guerras, uma humanidade desorientada que agonizou perante o massacre de populações mediante o limite imposto a liberdade com regimes totalitários. Não seria tudo isso um sintoma de decadência? Depauperação da cultura humana pela petulância de uma razão mumificada como pensou o Pensador Nietzsche? Essa fase negra da nossa história não seria marcada pela crise do otimismo romântico que, durante muito tempo cultivou a garantia e o sentido da história em nome da razão? Sim, aquela razão tão explorada pela filosofia clássica, uma ideia do absoluto, da ideia da humanidade atrelada em pontos de vistas estáveis em um progresso tosco e incontivel.

Pois bem, foi mediante esse quadro que o idealismo, o positivismo e o marxismo vingaram como Filosofias otimistas que presumiam ter alcançado o fundamento da realidade e o sentido absoluto da história. Porém, mediante os fatos uma pergunta deve ser feita: Conseguiram tais correntes humanizar as diferentes etnias?  Uma autora que estimo por sua inquestionável envergadura é a Hannah Arendt, intelectual de obras importantes, entre elas Origens do totalitarismo e A condição humana. Problematizando a questão da verdade indubitável, Hannah Arendt não gostava de ser chamada de filósofa, definia-se como pensadora política ou estudiosa de teoria política. Talvez um dos pontos principais de sua obra seja a reflexão sobre o problema que dá título a um dos livros mencionados acima: o totalitarismo e suas origens. Perante, a ascensão do nazismo, tentou compreender como esse tipo de regime, que provocou a morte de dezenas de milhões de pessoas e chegou ao requinte de produzir a morte em série, encontrou solo fértil entre os alemães e entre outros povos europeus. Suas indagações eram pertinentes - como um país, como a Alemanha, berço de grande parte do pensamento ocidental, permitiu que surgissem as sementes da tragédia e como elas progrediram até gerar tudo o que já conhecemos?

Hannah Arendt talvez tenha sido a pensadora que melhor entendeu as discrepâncias da Filosofia clássica- A busca da verdade a todo custo. Ela parece se situar em uma passagem, em um momento de mudança e, nesse sentido, com um olhar aprimorado. Vê o que aconteceu no tempo histórico da humanidade a partir da força do pensamento de gente como Agostinho e Aristóteles e pensa o futuro a partir de uma subversão, de uma limpeza, dos resíduos de metafísica, da imposição de uma verdade, sem esquecer as lições subliminares do mestre Kant, quando este, evidenciou o limite do conhecimento. Seu pensamento tocou as questões fundamentais do século passado, apontando aquilo que constitui o centro da condição humana contemporânea: A liberdade. você ainda cultiva a ideia de verdade absoluta? incontestável? sinto informar, o Hitler não pensava muito diferente. 




Por Claudio Castoriadis





sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

TEXTO DE MARIO LAGO

Fazer um céu com pouco a gente faz.
Basta uma estrela,
Uma estrela e nada mais.
Pra ter nas mãos o mundo
Basta uma ilusão.
Um grão de areia
É o mundo em nossa mão.
Sonhar é dar à vida nova cor,
Dar gosto bom às lágrimas de dor.
O sol pode apagar, o mar perder a voz,
Mas nunca morre um sonho bom dentro de nós.

(Mário Lago)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mario Lago - 1911-2002



 Arrebatar os sentimentos mais ternos da essência humana não ficou pra qualquer um. Nesse sentido foi com maestria que o grandioso Mario Lago cativou plateias do país inteiro.  Um dos maiores nomes da cultura brasileira e um dos personagens mais queridos da televisão, o ator poeta, mago das palavras e dono de versos e composições ontológicas Mario Lago construiu sua sólida carreira artística em vários campos da arte.  Quem não lembra do refrão “aí, que saudades de Amélia”? Música de sua autoria que estourou no ano de 1933. Pois é, como se não bastasse seu enorme talento os trabalhos do poeta foi imortalizado na voz de alguns dos maiores artistas brasileiros da época desde Carmem Miranda ao tão popular Roberto Carlos. Gravou a primeira música em parceria com Custódio Mesquita, em 1935.  Investindo na carreira de ator obteve seu merecido êxito. Começou com a Companhia Joracy Camargo indo logo em seguida para São Paulo atuar com Oduvaldo Viana. O resultado dessa mágica aventura? Chegou a ser um dos mais famosos galãs do teatro de comédia brasileiro nos anos 1940. A essas atividades incorporou as de radialista e ativista político. Trabalhou no rádio-teatro com Dias Gomes, que já despontava como autor de peças teatrais. Por sua atuação política de esquerda, os dois eram perseguidos pela força política. Depois da temporada paulista, Mário Lago voltou para o Rio de Janeiro. Foi trabalhar na Rádio Nacional, líder de audiência na década de 1940. A chamada "época de ouro" do rádio brasileiro. Na disputa pelos ouvintes, novos programas eram trabalhados, e foi assim com o radioteatro e a radionovela, lançada pela Nacional em 1942. Ali Mário trabalhou de forma frenética, escrevendo, dirigindo e atuando com extrema competência até 1948, quando foi repetir seu padrão de múltiplos talentos na Rádio Mayrink Veiga. Mário foi contratado e atuou por mais de 30 anos na Globo - em mais de 30 telenovelas -, e recebeu várias vezes o prêmio de Melhor Ator. Também foi ator de cinema, em mais de 20 filmes. Representou no teatro até o fim da sua longa vida - subiu pela última vez no palco em janeiro de 2002. Morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de idade, em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de enfisema pulmonar. "Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele". Assim falou o Mario.


Por Claudio Castoriadis
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Niklas Luhmann , sistemas , Ciências jurídicas .


Durante muito tempo, atrelada a reflexão jurídica pela sombra positivista, pregou-se a possibilidade de um possível parentesco entre método das ciências naturais com as ciências humanas, vale lembrar que nessas últimas estão incluídas as ciências jurídicas. O resultado dessa ambição foi um prejudicial raciocínio que tornou viável o pensamento absurdo de que a estrutura e a lógica jurídica obedecem ao mesmo grau de certeza dos saberes naturais, que estruturam a partir das categorias de causa e efeito. Eu particularmente acho uma estupidez pensar dessa forma por que dessa maneira retiramos das ciências jurídicas sua principal virtude: seu caráter de ciência valorativa. E, por conseguinte pensar de tal forma anacrônica é adentrar em uma esfera desumana constantemente atrofiando a possibilidade de revisão de suas conclusões. A postura jurídica deve ser independente de preceitos morais e dos caminhos tortuosos da sociedade.

Estamos lidando com pessoas. Bem ou mal, é de pessoas que estamos tratando não de um rebanho ou animal selvagem, temos valores. Onde há cultura há valor, e onde á valor existe uma dimensão rica de pontos de vistas axiológicos. Em suma, estamos tratando de um vasto sistema. Em última análise, a função do direito é justamente reduzir a complexidade do ambiente. A ciência jurídica como sistema deve se adaptar a uma dupla complexidade: a do ambiente e a dele mesmo. Se o direito não se preocupasse em diminuir a complexidade do ambiente, selecionados elementos, e a sua própria, autodiferenciando-se, seria diluído no mais rustico caos, por não conseguir lidar com o excesso de possibilidade. Os textos de Niklas Luhmann sobre direito por exemplo, são ramificações que provem da base comum de sua teoria. Em um contexto jurídico, a interdisciplinidade é um exemplo da irreverência de luhmann. Ou seja o empréstimo ou a troca de metodologia e fontes de uma disciplina para outra, assim como física nuclear instrumentalizada a medicina, a lógica formal é aplicada ao Direito etc. Mais só um instante, não estamos falando em ciência jurídica? Sim claro; mas não podemos deixar perder de vista que tal ciência trata de valores e os valores implica em um sistema sociológico. Por isso, ao invés de limitar a fundamentação de suas teses aos clássicos da sociologia, Luhmann utilizou conceitos oriundos de outras áreas, como a biologia, e de tecnologias inovadoras, como a cibernética e a neurofisiologia. Concluindo, falar em ciência jurídica é falar é um sistema que lida com valores visto que, entre as ciências humanas ou sociais a ciência jurídica é normativa e aplicada. Sendo especifica por se voltar para preocupações não naturalísticas, mais valorativas. Valores que para tanto os tradicionais conceitos da sociologia foram fundamentais para o iluminismo, pertencendo atualmente ao que Luhmann chamou de velho pensamento europeu, que já não conseguem resolver os problemas da sociedade contemporânea. Qual seria a solução então? Pergunta contundente- Seria necessário um iluminismo do iluminismo. Com novos conceitos adequados à complexidade da sociedade moderna. Pois bem, a sociedade complexa tem como características o indeterminismo, a entropia, a incerteza, tendo como resultado o caos. Luhmann se preocupou com a complexidade do mundo e buscou com sua teoria como é possível nascer a ordem do caos. Não seria esse o mais nobre sentido das ciências jurídicas? Sempre aberta voltada para os valores humanos que se transformam constantemente? Enfim, não estou provocando nem inflamando ideias. Apenas deixei minha opinião no meio de um grande sistema chamado código penal.
Por Claudio Castoriadis

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Um pouco de Franz Kafka : A Ponte

Eu era rígido e frio, eu era uma ponte; estendido sobre um precipício eu estava. Aquém estavam as pontas dos pés, além, as mãos, encravadas; no lôdo quebradiço mordi, firmando-me. As pontas da minha casaca ondeavam aos meus lados. No fundo rumorejava o gelado arroio das trutas. Nenhum turista se extraviava até estas alturas intransitáveis, a ponte não figurava ainda nos mapas. Assim jazia eu e esperava; devia esperar. Nenhuma ponte que tenha sido construída alguma vez, pode deixar de ser ponte sem destruir-me. Foi certa vez, para o entardecer – se foi o primeiro, se foi o milésimo, não o sei – meus pensamentos andavam sempre confusos, giravam, sempre em círculo. Para o entardecer, no verão, obscuramente murmurava o arroio, quando ouvi o passo de um homem. A mim, a mim. Estira-te, ponte, coloca-te em posição, viga órfã de balaústres, sustém aquele que te foi confiado. Nivela imperceptivelmente a incerteza de seu passo, mas se cambaleia, dá-te a conhecer e, como um deus da montanha, atira-o à terra firme. Veio, golpeou-me com a ponta férrea de seu bastão, depois ergueu com ela as pontas de minha casaca e arrumou-as sôbre mim. Com a ponta andou entre meu cabelo emaranhado e a deixou longo tempo ali dentro, olhando provavelmente com olhos selvagens ao seu redor. Mas então – quando eu sonhava atrás dele sobre montanhas e vales – saltou, caindo com ambos os pés na metade de meu corpo. Estremeci-me em meio da dor selvagem, ignorante de tudo o mais. Quem era? Uma criança? Um sonho? Um assaltante de estrada? Um suicida? Um tentador? Um destruidor? E voltei-me para vê-lo. A ponta de volta! Não me voltara ainda, e já me precipitava, precipitava-me e já estava dilacerado e varado nos pontiagudos calhaus que sempre me tinham olhado tão aprazilvelmente da água veloz.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Franz Kafka e suas deformações




Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883, cidade que durante todos os 40 anos da vida do escritor pertenceu à monarquia austro-húngara. Filho de um abastado comerciante judeu, Kafka cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formado em direito, ele fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Suas obras também conseguem formalizar e abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno. O olhar kafkiano é direcionado para coisas como a opressão burocrática das instituições, a "justiça" e a fragilidade do homem comum frente a problemas cotidianos. As obras mais famosas de Kafka foram escritas entre 1913 e 1921, são elas: "A Metamorfose", "O Processo", "OCastelo", "O Foguista" (que é na verdade o primeiro capítulo de "América"), "A Sentença" e "O Artista da Fome. 

As obras de Kafka nos perturbam profundamente. Uma leitura delicada, sombria, recheada por uma terminologia peculiar. Conhecer seus personagens requer, preliminarmente, um passeio pelo lado mais obscuro da vida. Basta uma breve olhada nas suas contundentes Histórias que adentramos em seu rico universo assegurando uma interpretação quase plena de sua obra. Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais, entre eles, contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a criação literária de Kafka foi dolorida, feita com o intuito de não parecer bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais, ou seja, segundo Theodor Adorno, até "as deformações em Kafka são precisas" o que justifica a constante ambiguidade, o artifício do simbolismo e os contrastes irônicos. Durante sua vida, Kafka nunca conseguiu atingir grande fama com seus livros, porém, algum tempo depois de sua morte, no dia 3 de junho de 1924, em um sanatório perto de Viena, onde internara-se por causa de sua tuberculose, sua obra literária atingiria enorme influência sobre as pessoas, passando a ser cultuada por leitores de quase todo o planeta.Franz Kafka e suas deformações

sábado, 26 de novembro de 2011

E O SONHO VAI PARAR NO TEATRO...


 Sinopse



Sonho de um Homem Ridículo conta a história de um personagem solitário de São Petersburgo em pleno século XIX. Na época, a cidade era o centro de toda a Rússia, e como em toda grande cidade, os homens são introspectivos e mais voltados para si mesmos. É um personagem fantástico, pois com a introspecção a alma aflora de maneira exuberante, define Frateschi.

O personagem, um funcionário público, sabe que é ridículo desde a infância. Motivo de desprezo e zombaria de seus semelhantes,já não tem mais nenhum interesse na continuação da sua existência. Num dia inútil como todos os outros, em que mais uma vez esperava ter encontrado o momento de meter uma bala na cabeça, foi abordado por uma menina que clamava por ajuda. Ele não só recusa o apoio à criança, como a espanta aos berros.

Ao voltar para casa, não consegue dar fim a sua existência. Adormece e sonha com a sua própria morte, com seu enterro e com uma vida após a morte. Viaja pelo espaço e por desconhecidas esferas. Experimenta a terra não manchada pelo pecado original e conhece os homens na plenitude da sabedoria e equilíbrio. Ele acredita que aquilo tudo foi real, pois as coisas terríveis que sucederam não poderiam ter sido engendradas num sonho.

Ficha Técnica

Texto  Fiódor Dostoiévski
Dramaturgia e interpretação   Celso Frateschi.
Direção Roberto Lage
Cenário e Figurino Sylvia Moreira
Luz  Wagner Freire
Trilha Sonora  Aline Meyer
Imagens  Elisa Gomes






Suspiros de um solitário : "O Sonho de um Homem Ridículo"

Quem se atreveria a escutar os suspiros
Dos solitários e dos extraviados?
Ai, concedei-me a loucura, poderes divinos!
A loucura, para que, ao fim, acabe por crer
Em mim mesmo!

(Friedrich Nietzsche)

Creio que são poucas as pessoas que ao se deparar com as obras do Filósofo Nietzsche não se deixa levar pela sua bela e conturbada trajetória. Marcado por uma vida errante própria de um génio solitário suas palavras arrebatam as mais diversas almas pelo seu encanto e melancolia. Sua solidão grita em nosso imaginário da mesma forma que martelava seu nobre espírito. Com isso, faço das suas palavras inflamadas de solidão um convite para o mundo de um belo conto cujo título "O Sonho de um Homem Ridículo", de certo modo retrata o sentimento daqueles angustiados heróis que tanto suscitam exuberância em nossos corações. Narrado em primeira pessoa, "O Sonho de um Homem Ridículo", escrito por Dostoiévski, centra-se no relato feito por um sujeito acerca das suas amarguras e neuroses. Exaurido por conflitos teóricos durante sua trajetória intelectual o mesmo reconhece sua condição medíocre. Assim como em todas suas obras essa trama traz um forte apelo emocional cravando na alma dos seus leitores questionamentos existenciais e contundentes. De forma peculiar e intensa esse conto traz à tona toda a introspecção de um personagem dramático desorientado pelo racionalismo e moralismo que desde sempre lhe tortura. Com o decorrer do texto nos deparamos no centro de um monólogo de tirar o fôlego onde um sujeito no auge do desespero decide tirar a própria vida. Obra do acaso ou não durante suas andanças pelas ruas de São Petersburgo, o narrador olha para o céu e vê uma estrela solitária, pouco depois, uma menina vem correndo na direção dele. O narrador supõe que algo está errado com a mãe da menina, ainda assim a garota é deixada de lado, e solitário sujeito finda em seu apartamento amparado apenas por seus dispêndios. Um dos pontos auto da narrativa acontece especificamente quando o conturbado narrador se deixa tomar pelo sentimento de compaixão para com o sofrimento de uma pobre garotinha; o que possivelmente lhe traz reflexões sobre sua ligação afetiva com a humanidade, retardando a ideia de cometer suicídio. Numa noite desconfortante e sombria tal como a sua existência, ele irá adormecer em sua velha poltrona, e irá sonhar com uma espécie de “paraíso”, mas um paraíso que é na Terra e não em outro mundo. Com isso, o texto ganha um novo sentido onde o narrador-protagonista, tem uma revelação através de um sonho utópico. Mediante magnifico sonho o homem ridículo é agraciado por uma nova visão do instinto humano. O que ele vê são homens e animais convivendo pacificamente, numa terra onde todos se amam e compreendem a vida e a morte em perfeita harmonia. Os vivos não choram diante dos mortos, se alegram; e os mortos não lamentam, partem amando. Ele se convence de uma verdade exuberante: Pois eu vi a verdade, sei-o; os homens podem tornar-se belos e felizes sem que, para isso, tenham de deixar de viver na Terra. Eu não quero nem posso crer que a maldade seja o estado normal do homem. Mas eles troçam desta minha crença. Não acreditam em mim! Eu vi a verdade!  Certo dia, o narrador começa a ensinar os outros habitantes como cultivar novos valores. Isto gera a corrupção do paraíso: Indiferenças, mentiras, orgulho e um diluvio de outros pecados. Logo, o primeiro assassinato ocorre. As divisões são feitas, as guerras são travadas a discórdia é propagada. A ciência sufoca os valores mais nobres, o conhecimento se personifica como uma pérfida ferida e os membros da antiga utopia são incapazes de lembrar a sua forma de vida anterior- Esse momento da narrativa é incisivo por abrir um leque de possibilidades para se pensar a natureza humana em sua complexidade e morbidez. O narrador então acorda. Agora agraciado por um novo sentido, completamente transbordando de alegria com a vida. Ele promete passar o resto de seus dias pregando a verdade que ele viu. Sua principal lição? É a de amar os outros: e desde então anuncio a boa nova!...Amo-os a todos, e mais que a ninguém, aqueles que riem de mim. Por amo mais a estes? Não sei, nem tampouco posso explica-lo, mas é assim. Dizem que estou enganado...

Boa leitura!!!

Por Claudio Castoriadis 

Veja também o curta : O sonho de um homem rídiculo
Direção: Aleksandr Petrov
Roteiro: Alexandr Petrov, baseado na obra de Fiódor Dostoiévski
Título Original: Son smeshnogo cheloveka
Origem: Rússia
Duração: 20 min
Idioma: Russo
Legendas: Português

http://www.youtube.com/watch?v=LZZPMxxqZPo&noredirect=1
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

UMA CRIATURA DÓCIL SEGUNDO DOSTOIEVSKI


É indubitável a importância de Dostoievski na literatura mundial. Não por acaso, o escritor russo é universalmente conhecido como um dos maiores romancistas que já existiram. Um grande número de escritores se inspirou no trabalho dele e utilizou um ou outro aspecto do seu estilo para suas próprias finalidades. O escritor russo renovou o gênero literário, o de romance, ao ter criado romance polifônico, ou seja, seus personagens se exteriorizam com vida própria. Essa é a grande cartada do autor: não criar escravos do narrador, mas gente livre, capaz de contradizer o próprio autor.

 Em sua edição de 2 de outubro de 1876, o jornal Golos (A voz), de São Petersburgo, estampava a notícia do suicídio de uma certa Maria Boríssova, jovem costureira moscovita que  viera tentar a sorte na capital do império. Sozinha na cidade grande, ela caíra na miséria e, por desespero, jogara-se do alto de um prédio, abraçada a um ícone da Virgem. A tragédia de imediato chama a atenção de Dostoievski. O escritor, que já publicara três de seus romances – Crime e castigo saiu em 1866, O idiota foi publicado em 1868, e 1872 é o ano de Os demônios –, dedicava-se então ao Diário de um escritor, uma coluna de sucesso no jornal Grazhdanin (O cidadão) que logo se tornou uma revista mensal autônoma, dirigida pelo próprio Dostoievski. No número de outubro de 1876, sobre a tragédia ele comenta nos seguintes termos: “Durante muito tempo não conseguimos deixar de pensar em certas coisas, por mais simples que pareçam, elas como que nos perseguem, e até nos parece então que temos culpa dessas coisas. Essa alma doce e humilde que destruiu a si mesma forçosamente tortura o pensamento.” Compara ainda o caso de Maria Boríssova ao de Liza, filha do revolucionário Aleksandr Herzen, que pouco antes também cometera suicídio. Esta última deixara um bilhete de despedida que parece “frívolo” ao escritor: a jovem estipulava as providências a serem tomadas para um enterro “chique”. Da notícia de jornal, Dostoievski retém particularmente um detalhe concreto, que deve ter atiçado sua imaginação de romancista: “Essa imagem nas mãos é um traço estranho e ainda desconhecido nos suicidas!”. Prova disso é que, no mês seguinte, o Diário de um escritor é inteiramente ocupado pela novela Uma criatura dócil, em que o artigo de jornal se transforma em uma “história fantástica”.  Com grande amor e detalhes precisos nesse pequeno ensaio o mestre russo desenvolve um estudo sobre a opressão. A trama que de imediato aparenta ser simples trata sobre uma mulher em busca progressiva de liberdade, e que afinal é envenenada por desigualdades de sexo, idade e classe. A novela narra a trágica trajetória de seu casamento, pontuado de orgulho e humilhação. Um tiro certeiro na alma humana e no moralismo tirano de sua época. Por isso, perguntas pesam no decorrer da obra: até que ponto estamos cegos por nossas neuroses? Qual o verdadeiro papel da mulher na sociedade? Nossas virtudes não seriam vícios disfarçados? Quando floresce na alma humana a ideia de suicídio? Enfim, Uma criatura dócil é mais uma exuberante narrativa do final da vida de Dostoievski que vale a pena preencher nossa biblioteca.

"Uma criatura dócil", Fiódor Dostoiévski, tradução de Fátima bianchi, editora Cosac & Naify, 1a. edição (2003) brochura 13.5x20cm, 96 págs., ISBN: 978-85-7503-197-X

Por Claudio Castoriadis

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O romance o idiota vai ao teatro e as telas


A peça foi uma das três finalistas do Prêmio BRAVO 2010 como Melhor Espetáculo e recebeu o Prêmio APCA de Teatro 2010 na categoria Prêmio Especial da Crítica pela realização do projeto. 

Direção: Cibele Forjaz
Texto: Fiódor Dostoiévski
Trilha Sonora: Otávio Ortega
Elenco: Aury Porto, Fredy Allan, Luah Guimarãez, Lúcia Romano, Luís Mármora, Sergio Siviero, Silvio Restiffe, Sylvia Prado, Vanderlei Bernardino
Indicação: Maiores de 14 anos

Conlheça também a Minissérie russa - "O Idiota"

confira o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=ChZ9P3-8snU&feature=related

domingo, 20 de novembro de 2011

“Meio” bebo


Eu acordo meio dia
De ressaca meio tonto
Vou ao banheiro meio apressado
Tomo um café meio zonzo

No trabalho meio expediente
Eu cheguei meio atrasado
O meu chefe meio nervoso
Ameaça meio salário

Chego em casa meio cansado
Mas logo saio meia noite
Vou pra festa meio liso
Encontro um amigo meio doido

Já me encontro meio lento
Meu amigo meio que cambaleia
Tomo pinga meio litro
E beijo uma nega meio feia

Com altura meio baixa
Uma cintura meio gorda
Olhando bem é meio corcunda
Parece até meio doida

O meu amigo é meio culpado
Tomei sozinho meio litro
O espertinho tomou meio copo
E eu fiquei com todo o prejuízo.

Por Claudio Castoriadis

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