quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Literatura latino-americana

HORACIO QUIROGA      
Por Claudio Castoriadis

Exuberância, violência e loucura. Sem esquecer da poesia latente em seu estilo temos na figura do intelectual Horacio Quiroga uma culminação de beleza e Horror. Escritor uruguaio, é sem sombra de dúvida o inventor do conto moderno na literatura latino-americana.

 A tragédia, sombra e abrigo dos maiores gênios, foi constante em sua vida, sucedendo-se um número insólito de mortes acidentais e de suicídios entre familiares e amigos mais próximos do autor, muito jovem, perdeu o pai, afeiçoando-se estreitamente ao padrasto que se suicidou, após ter ficado paralítico na sequência de uma hemorragia cerebral; a sua primeira esposa, Ana Maria Cires, incapaz de se adaptar à vivência na selvas suicidou-se em 1915, após uma violenta discussão com o escritor, deixando-o com a responsabilidade de educar os seus dois filhos. Em 1927, voltou a casar com Maria Elena Bravo, de quem terá mais uma filha. Por fim culminou no seu próprio suicídio. 

Em Los arrecifes de coral, livro dedicado ao seu amigo Leopoldo Lugones, outro grande escritor, temas permanentes em sua obra do tipo: mistério, solidão e melancolia contornam um estilo primoroso e único. Considerado por muitos como o inventor do conto. Com maestria sistematizou a narrativa curta elevando-a à categoria de gênero literário os seus contos se mostram herméticos e quando deseja maior intensidade, cada palavra irradia um espetáculo poético. 

Para os interessados uma boa dica de leitura que retrata bem o estilo contundente do Horacio seria a coletânea de contos intitulada CONTOS DE AMOR, LOUCURA E MORTE lançado pela editora cavalo de ferro, tradução da Ana santos. Se por acaso essa edição não for encontrada visite o site: www.cavalodeferro.com   

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Onde as horas não passam...Mawilda.

Mawilda
                                                         Por Claudio Castoriadis


Quando deixo o refeitório um tênue raio de luz descobre um sorriso com ar de casual, era a garota Mawilda. Franzindo a sobrancelha seu olhar ressumava ternura em um rosto angelical. Uma chuva ligeira caíra na noite anterior, por isso a pequena não se contia de alegria enquanto observa seu pequeno irmão brincar com as galhas secas e as poucas gotas que ainda caiam do teto. Intrigante, muitas pessoas desejariam falar com Deus, manter um contato direto com o criador, no momento contenta-me o simples - só queria ouvir por instantes a voz do pequeno irmão da Mawilda. Tentar compreender o que se passa na cabeça dessa criatura sagrada. Ele é nosso porto seguro, durante toda travessura do vale entre esse mundo pra o outro muitas forças malignas nos cercam, diversos entes das trevas, blasfemando contra ás leis eternas do divino e da compreensão, e graças a sua bravura e orações nenhum mal permanece muito tempo peregrinando sobre nossos passos. Taluiá Heniê, é como costumo denominá-lo, que significa “Filho que caminha sobre a luz da justiça divina”. Quando tive noção do meu dom requeimo-me uma sede ardente; desde então me ocupei em proteger essas duas crianças, verdadeiras e misteriosas. E foi somente a partir delas que passei a modificar todos os meus hábitos. A garota Mawilda foi a primeira a se manifestar para mim. Ainda quando criança ela aprontava no porão da minha casa, era tímida, tinha um modo de chamar atenção um tanto sutil. Não demorou muito ela tinha suas aparições em meu guarda-roupas; não tinha medo, mesmo quando ela passou a ser companhia constante ao lado da minha cama quando pela madrugada eu acordava com sede. Tinha por baixo do seu lindo cabelo encaracolado, um rosto cuja pela imaculada destilava uma imensa brancura. Olhos negros, bem desenhados, que se perdiam entre as têmporas realçadas por longas pestanas. De imediato qualquer um ficaria deslumbrado pelo brilho de seus olhos tão intensos e obstinados - Uma exuberância de juventude. Vestido curto, meio branco amarelado, seus trajes eram bem típicos de uma pequena boneca. Com o tempo suas aparições passaram a ser constantes e duradouras. Ela estava encarregada de ensina-me tudo o que fosse necessário para o aperfeiçoamento do meu dom. Quem a enviou? O porquê? Bem, para essas perguntas ela sempre me negou uma plausível resposta. Eu entendo e deverás respeito; afinal existe tanto mistério nessa vida, coisas que ultrapassam a experiência do possível.
Ninguém desse lugar passa despercebido do olhar dessa garota brincalhona. Bastante talentosa, Mawilda tem sempre ao lado um pequeno caderno onde passa horas rabiscando caricaturas, objetos e figuras extravagantes. As árvores, plantas, esculturas, bancos, cadeiras, instrumentos, enfermeiros e pacientes - todos são modelos que ganham vida nos graciosos traços da garota Mawilda. “O mundo não se resume apenas ao que vivenciamos” diz minha pequena amiga, “mas também a tudo que podemos representar pela arte”. Que assim seja Mawilda; que sua arte possa explodir em alegria e infinitas cores essa medonha realidade, que cada pedaço desse lugar seja abençoado por suas delicadas mãos. Quem não gostaria de possuir um caderno mágico? Sim, um caderno com folhas mágicas. Folhas que na verdade são espelhos encantados onde o feio se delineia como belo, onde as feridas são apenas rabiscos que não ferem. Você nem sabe o quanto é reconfortante seus traços Mawilda. Quando estou triste com a realidade fecho os olhos, tento não perder o controle, controlo minha respiração e deslumbro minha vista para uma só direção: as paginas sagradas de um simplório caderno. Simples assim, Espigão, Naldo, Dona Esperança e todos da clínica são verdadeiros heróis, ganham uma nova vida, todos são felizes com suas famílias, todos são iguais dourados por um novo sol, todos são belas flores cultivadas em um imenso jardim, um lugar onde o equilíbrio é possível.


Por Claudio Catoriadis

veja também : http://claudiosloterdijk.tumblr.com/

domingo, 21 de agosto de 2011

As dores da minha existência

                                          Por Claudio Castoriadis

 Tem dias em que eu acordo gritando para as paredes as dores da minha existência, nessas horas o silêncio pesa esmagando minha esperança, dizimada por cada infortúnio e miséria, espelhos quebrados entre coisas empoeiradas refletem meu rosto em retalhos. Mesmo assim sou grato por cada lástima.  Tudo acontece como deveria ser afinal, a roda da existência não para, ela é sempre fiel com suas obrigações: gira e gira criando e destruindo tudo que se encontra em seu domínio. Busco por meu lugar onde meu equilíbrio possa ser como deveria. Eles podem destruir meu corpo, dilacerar meus sonhos, mas minha luz será forte. Que venha todo mal, nada temo - meu espírito ainda me pertence. O vale da sombra da morte é pouco para quem sobrevoa abismos. Meu coração está partido, são tantas as feridas. Pássaros selvagens me rodeiam. Eles querem a companhia desse miserável pecador que desde sempre definhou pela escuridão. Silêncio - uma oração cai sobre mim.

sábado, 13 de agosto de 2011

Lágrimas

                             Por Claudio Castoriadis

Hoje eu acordei pensando no infinito
 Por horas me banhei em
Suas águas,
Enquanto descansava pensei em todas
As dores do mundo
Pensei como um solitário perturbado pelo
Silêncio tortuoso,
Pensei em nomes, lugares, pessoas
Dediquei cada lágrima aqueles
Que eu já fiz sofrer
Seja por má-fé, malícia, covardia

Mergulhei nas estrelas
Confuso
Solitário
Clamei pelo fundamento da vida,
Descansei 
Chorei.

Em um canto distante
Longe de qualquer lugar
O sagrado da vida
Refrigera minha alma.

Que meu brilho não pereça
E minha dor não me destrua.

Que minha sombra seja
Refugio, um jardim para
Almas benevolentes,
Bem aventurados.

Que o meu pranto
Não justifique
Minhas feridas
E que meu "eu" seja
Uma centelha de ternura.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O evangelho segundo Nietzsche.

                                     Por Claudio Castoriadis


A novidade da análise nietzschiana acerca da cultura consiste em sua postura permeada de comunicações inauditas utilizando palavras antigas. Seus escritos de tão bem trabalhados se tornam uma obra de arte. Sua fala que muitas vezes gravita em tradições linguístico-religiosas chega a dar um ar de paródia da tradição cristã. De fato existe uma forte tendência entre tantos intelectuais de nosso tempo em considerar sua aparição como “evangelista” sendo tal postura um traço fundamental de sua filosofia. Basta uma breve leitura do seu assim falou Zaratustra para podemos perceber uma inclinação bíblica estritamente poética. Seja como professor da cadeira de filologia clássica ou como filósofo intempestivo, Nietzsche deverás sempre proferiu um tipo de evangelho que clamava uma cultura fiel as forças essenciais da natureza e da vida. Contudo, acerca do seu evangelho seria importante enfatizar que não se trata de um consolo utópico guiado por diretrizes redentoras como, por exemplo: a república de Platão, a nova Atlântida de Francis Bacon, o comunismo marxista ou o consolo compassivo do cristianismo. Muito pelo contrário, acreditando que as diferenças e injustiças são próprias do mundo seu evangelho não promete um sol, sossego, brandura, paciência, remédio ou balsamo. Com rigor suas parábolas e versículos edificam uma escola da suspeita (Schule Des Verdachts) de onde surgirão filósofos legisladores implacáveis, terríveis e tirânicos, estes cientes que crescimento do homem só é possível quando se leva em conta sua grandeza atrelada também no profundo e terrível.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Feio e torto


Feio e torto

Depressão…
Uma ressaca que não tem fim
Um copo com agua que falta
No Haiti,
Um mendigo dormindo em pleno sol
Do meio dia.

Depressão…
Ouvir calado um choro na casa
Ao lado,
Um bater de palmas no portão
Uma criança recém-nascida surda e
Muda
Um reclamar em silêncio toda injuria,
Todo dispêndio.

Depressão…
Um abraço que não abriga
Um amor que feri e humilha
Um sentido que não explica

Depressão…
Que rima com cadeira,
Um final de semana sem brilho
Uma poesia modesta e pobre
Um samba feio e torto.
Um pássaro ridículo em minha
Janela.

Depressão…
Um sapo que não lava o pé
Um sai pra lá exu caveira
Uma mola encolhida
Um filho que ainda não veio
Um palhaço escroto sem graça.

                                     ( Amina ) 



 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Falando em Platão...

Platão foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mestre, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, outro grande gênio, vale lembrar que Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles, considerado o grande pilar de todo o pensamento ocidental sendo o mesmo para muito, inovador por tratar de diferentes temas, entre eles a ética, a política, a metafísica e a teoria do conhecimento. Nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. (no ano da 88a olimpíada, no sétimo dia do mês Thargêliốn, cerca de um ano após a morte do estadista Péricles, e morreu em 347 a.C. (no primeiro ano da 108a olimpíada).
Para que melhor possamos compreender o alcance desse pensamento em uma breve apresentação convém esquematizar a filosofia platônica, resumindo os seus principais pontos de vista basicamente em duas teses:
Tese metafísica
O verdadeiro ser das coisas é, para Platão, a essência que não muda, conservando-se idêntica nos indivíduos (tal como a espécie humana, que não morre quando os indivíduos se extinguem). Mas como no mundo em que vivemos tudo está em permanente mudança, a essência imutável deve existir não nas coisas materiais e passageiras, porém numa outra dimensão, que o filósofo denomina “mundo inteligível”, oposto ao “mundo sensível” em que nos encontramos. Só as essências, também chamadas universais, existem verdadeiramente, sendo a imutabilidade o sinal distintivo da realidade completa, sem falhas. As coisas, perecíveis, arrastadas pela onda da eterna mudança (vir-a-ser) existem na medida em que participam das essências, paradigmas ou modelos (Idéias ou formas, na terminologia platônica), que elas refletem, e em razão das quais surgiram.
Tese psicológica
A alma tem afinidade com o mundo inteligível do qual se originou. Presa no corpo, como dentro de um cárcere, aspira retomar ao seu lugar de origem, e é essa aspiração, interpretada como desejo de imortalidade, que a conduz quando ela ama. Dividida entre uma parte superior, racional, que a leva para o alto, e uma inferior, dos instintos e paixões, que a puxa para baixo, onde a matéria domina, a alma deve superar as imperfeições do seu estado terreno, libertando-se gradualmente delas, para concentrar-se no conhecimento das essências ou idéias, que a Razão é capaz de apreender, quando consegue fugir ao império das impressões sensíveis, fugazes e ilusórias. Esse processo de libertação, pelo qual o verdadeiro conhecimento se efetiva, e que tem sentido intelectual e moral, é impulsionado pelo Amor (Éros) e ativado pelo Bem (Agathós), luz do mundo inteligível, a mais elevada de todas as idéias, que comparte da natureza da Verdade, e cujo brilho, que atrai e seduz a alma, resplandece nas próprias coisas. Essa sedução é própria dos seres e objetos belos, em que o Amor se fixa e à custa dos quais impulsiona a escalada do espírito, do sensível ao inteligível, sede da verdadeira Beleza e do verdadeiro Bem.

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