terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Niklas Luhmann , sistemas , Ciências jurídicas .


Durante muito tempo, atrelada a reflexão jurídica pela sombra positivista, pregou-se a possibilidade de um possível parentesco entre método das ciências naturais com as ciências humanas, vale lembrar que nessas últimas estão incluídas as ciências jurídicas. O resultado dessa ambição foi um prejudicial raciocínio que tornou viável o pensamento absurdo de que a estrutura e a lógica jurídica obedecem ao mesmo grau de certeza dos saberes naturais, que estruturam a partir das categorias de causa e efeito. Eu particularmente acho uma estupidez pensar dessa forma por que dessa maneira retiramos das ciências jurídicas sua principal virtude: seu caráter de ciência valorativa. E, por conseguinte pensar de tal forma anacrônica é adentrar em uma esfera desumana constantemente atrofiando a possibilidade de revisão de suas conclusões. A postura jurídica deve ser independente de preceitos morais e dos caminhos tortuosos da sociedade.

Estamos lidando com pessoas. Bem ou mal, é de pessoas que estamos tratando não de um rebanho ou animal selvagem, temos valores. Onde há cultura há valor, e onde á valor existe uma dimensão rica de pontos de vistas axiológicos. Em suma, estamos tratando de um vasto sistema. Em última análise, a função do direito é justamente reduzir a complexidade do ambiente. A ciência jurídica como sistema deve se adaptar a uma dupla complexidade: a do ambiente e a dele mesmo. Se o direito não se preocupasse em diminuir a complexidade do ambiente, selecionados elementos, e a sua própria, autodiferenciando-se, seria diluído no mais rustico caos, por não conseguir lidar com o excesso de possibilidade. Os textos de Niklas Luhmann sobre direito por exemplo, são ramificações que provem da base comum de sua teoria. Em um contexto jurídico, a interdisciplinidade é um exemplo da irreverência de luhmann. Ou seja o empréstimo ou a troca de metodologia e fontes de uma disciplina para outra, assim como física nuclear instrumentalizada a medicina, a lógica formal é aplicada ao Direito etc. Mais só um instante, não estamos falando em ciência jurídica? Sim claro; mas não podemos deixar perder de vista que tal ciência trata de valores e os valores implica em um sistema sociológico. Por isso, ao invés de limitar a fundamentação de suas teses aos clássicos da sociologia, Luhmann utilizou conceitos oriundos de outras áreas, como a biologia, e de tecnologias inovadoras, como a cibernética e a neurofisiologia. Concluindo, falar em ciência jurídica é falar é um sistema que lida com valores visto que, entre as ciências humanas ou sociais a ciência jurídica é normativa e aplicada. Sendo especifica por se voltar para preocupações não naturalísticas, mais valorativas. Valores que para tanto os tradicionais conceitos da sociologia foram fundamentais para o iluminismo, pertencendo atualmente ao que Luhmann chamou de velho pensamento europeu, que já não conseguem resolver os problemas da sociedade contemporânea. Qual seria a solução então? Pergunta contundente- Seria necessário um iluminismo do iluminismo. Com novos conceitos adequados à complexidade da sociedade moderna. Pois bem, a sociedade complexa tem como características o indeterminismo, a entropia, a incerteza, tendo como resultado o caos. Luhmann se preocupou com a complexidade do mundo e buscou com sua teoria como é possível nascer a ordem do caos. Não seria esse o mais nobre sentido das ciências jurídicas? Sempre aberta voltada para os valores humanos que se transformam constantemente? Enfim, não estou provocando nem inflamando ideias. Apenas deixei minha opinião no meio de um grande sistema chamado código penal.
Por Claudio Castoriadis

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Um pouco de Franz Kafka : A Ponte

Eu era rígido e frio, eu era uma ponte; estendido sobre um precipício eu estava. Aquém estavam as pontas dos pés, além, as mãos, encravadas; no lôdo quebradiço mordi, firmando-me. As pontas da minha casaca ondeavam aos meus lados. No fundo rumorejava o gelado arroio das trutas. Nenhum turista se extraviava até estas alturas intransitáveis, a ponte não figurava ainda nos mapas. Assim jazia eu e esperava; devia esperar. Nenhuma ponte que tenha sido construída alguma vez, pode deixar de ser ponte sem destruir-me. Foi certa vez, para o entardecer – se foi o primeiro, se foi o milésimo, não o sei – meus pensamentos andavam sempre confusos, giravam, sempre em círculo. Para o entardecer, no verão, obscuramente murmurava o arroio, quando ouvi o passo de um homem. A mim, a mim. Estira-te, ponte, coloca-te em posição, viga órfã de balaústres, sustém aquele que te foi confiado. Nivela imperceptivelmente a incerteza de seu passo, mas se cambaleia, dá-te a conhecer e, como um deus da montanha, atira-o à terra firme. Veio, golpeou-me com a ponta férrea de seu bastão, depois ergueu com ela as pontas de minha casaca e arrumou-as sôbre mim. Com a ponta andou entre meu cabelo emaranhado e a deixou longo tempo ali dentro, olhando provavelmente com olhos selvagens ao seu redor. Mas então – quando eu sonhava atrás dele sobre montanhas e vales – saltou, caindo com ambos os pés na metade de meu corpo. Estremeci-me em meio da dor selvagem, ignorante de tudo o mais. Quem era? Uma criança? Um sonho? Um assaltante de estrada? Um suicida? Um tentador? Um destruidor? E voltei-me para vê-lo. A ponta de volta! Não me voltara ainda, e já me precipitava, precipitava-me e já estava dilacerado e varado nos pontiagudos calhaus que sempre me tinham olhado tão aprazilvelmente da água veloz.
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