sábado, 25 de fevereiro de 2012

Literatura e Cultura: Joseph Frank


Joseph Frank é autor de muitos livros, considerado uma das maiores autoridades mundiais em Dostoievski lembrando a todos os seus leitores que as ideias e as consciências dos personagens de Dostoievski são autônomas, não podendo ser levadas a um denominador ideológico comum por esse motivo e vários outros intrigantes o mestre Russo seria influência na literatura mundial. O rigor textual de Frank é um traço de seu percurso, não o impede de enxergar na obra de um autor como Dostoiévski conteúdos que só podem ser amplamente compreendidos em seu contexto de origem. Vem daí a ambivalência do título e da própria metodologia de Frank. O mesmo crítico que afirma que, se quisermos fazer justiça ao romancista, devemos esquecer as questões ideológicas e os problemas sociopolíticos em que estão envolvidas suas principais personagens.


Só para constar a importância do Dostoievski, suas ideias influenciaram autores de peso como Lev Shestov, Nietzsche, Heidegger e o Francês Sartre. Frank é dono de uma biografia impecável sobre o romancista russo, Entre os quais se destacam: "Dostoiévski - As Sementes da Revolta (1821-1849)"; "Dostoiévski - Os Anos de Provação (1850-1859)"; "Dostoiévski - Os Efeitos da Libertação (1860-1865)"; "Dostoiévski - Os Anos Milagrosos (1865-1871)"; "Pelo Prisma Russo - Ensaios sobre Literatura e Cultura”, "Dostoiévski - O Manto do Profeta (1871-1881)" todos publicados pela Edusp. O emérito do professor escreveu também “Pelo prisma russo: ensaios sobre literatura e cultura”. Lembrando também que em sua trajetória intelectual escreveu dezenas de outras obras. Com o devido reconhecimento recebeu o título de doutor Honoris causa pelas universidades de Chicago, Adelfhi, Northwestem e Sorborne.

O diário de um escritor


Leia abaixo a descrição que Joseph Frank faz do Diário de um Escritor, publicação com artigos integralmente redigidos por Dostoiévski e publicados de modo irregular de 1873 até 1881, ano de sua morte.


O Diário de um Escritor é uma mistura tão grande de material disparatado que fica difícil dar uma noção sofrível de seu conteúdo. As ideias propriamente ditas do Diário já eram conhecidas desde a atividade jornalística anterior do autor, bem como desde os vôos ideológicos de seus romances. No entanto, receberam uma nova vida e uma nova cor graças ao constante desfile de exemplos e ilustrações mais recentes, extraídos de sua onívora leitura da imprensa corrente, de seu amplo conhecimento da história e da literatura tanto russa quanto europeia e, muito frequentemente, dos fatos de sua própria vida. Essas revelações autobiográficas foram, certamente, um dos principais atrativos do Diário e contribuíram enormemente para seu encanto; os leitores sentiam que estavam realmente sendo admitidos na intimidade de um de seus grandes homens. Esse constante intercurso entre o pessoal e o público – a incessante mudança de nível entre os problemas sociais do momento, as ‘questões malditas’ que sempre infectaram a vida humana, e as espiadas nos recessos da vida particular e na sensibilidade de Dostoiévski – revelou-se uma combinação irresistível que deu ao Diário seu cunho literário único.


Além do mais, o Diário serviu de estímulo não só para os contos e esquetes já mencionados, mas também, como o autor já antecipara desde o início, para o grande romance que planejava escrever. Vez por outra aparecem motivos que logo serão utilizados n’Os Irmãos Karamázov; e um dos fascínios desse vasto corpus jornalístico, especialmente para os leitores de hoje, é observar a cristalização desses motivos à medida que emergem espontaneamente durante o tratamento de um ou outro assunto. Mesmo que não seja literalmente um caderno de notas, o Diário preenche essa categorização no sentido exato da palavra. É, verdadeiramente, a ferramenta de trabalho de um escritor nos primeiros estágios da criação – um escritor que procura (e encontra) a inspiração para seu trabalho, à medida que, de pena na mão, inspeciona os fatos correntes e tenta lidar com seu sentido mais profundo.


Extraído de Dostoiévski: O Manto do Profeta (1871-1881), de Joseph Frank.


Por Claudio Catoriadis

Falando um pouco sobre o Martin Heidegger





Martin Heidegger (1889-1976), nascido na Alemanha, professor da Universidade de Freiburg im Brisgau e seu reitor de 1933 a 1934, em 1923, assumiu umas das cátedras de filosofia da universidade de Marbug e começou a projeta-se entre os especialistas, acadêmicos por seus trabalhos especiais dos pensadores pré-socráticos.  Em 1946, o filósofo foi afastado do ensino em consequência de inquérito a que respondeu perante as tropas Aliadas de ocupação pelas notórias e oficiais relações por ele entretidas com o Partido Nazista quando foi reitor. É um dos raros filósofos modernos cuja obra apresenta singular crescimento póstumo: Heidegger morreu com as gavetas pilhadas de inéditos, que começaram a ser editados a partir de 1978 – fato gerador de uma terceira fase da recepção de seu pensamento. A primeira fase, até 1946, corresponde à irradiação de “Ser e tempo”, um belo trabalho dedicado a seu mestre Edmund Husserl, “com amizade e veneração”, escrito a partir de 1923, interrompido em 26 e publicado em 1927, permaneceria incompleto até o fim da vida de Heidegger, só com duas das três seções programadas para a primeira parte, omitindo a terceira (com o título inverso de Tempo e ser) e sem a segunda parte, então prevista, da mesma obra. Anunciada nessa inversão do título, de Ser e tempo a Tempo e ser. 


As duas seções publicadas da primeira parte de Ser e tempo já compõem o perfil de uma ontologia fundamental, estudando, numa analítica, com base no método fenomenológico de Husserl, o homem do ponto de vista de seu ser, como Dasein. O perfil dessa ontologia, repassado na “vontade de destruição e subversão” que impregna a questão do sentido do ser, se reconfigura nos textos de 1929, como O que é a metafísica? Da essência do fundamento e Kant e o problema da metafísica. A julgar-se pela segunda fase, seria esse estudo apenas um caminho provisório para “o desenvolvimento completo da questão do ser em geral”. Não era, pois, a existência humana, mas a questão do ser em geral a meta de Ser e tempo, que passou a considerar-se a questão de fundo, interesse, encargo ou destino do pensamento nos escritos de 1930 em diante, como, entre outros, A essência da verdade, Hölderlin e a essência da poesia e aqueles reunidos na coletânea Caminho do bosque, particularmente a origem da obra de arte (1935), A época da imagem do mundo e Por que poetas? Além daqueles mais tardios em que se juntam os temas da essência da técnica e da superação da metafísica.

Enfim, esta obra pode ser vista como síntese da Filosofia de Martin Heidegger, peça fundamental para compreendemos a filosofia contemporânea, figurando em geral nas seleções dedicadas as chamadas joias do pensamento ocidental mesmo Tratando-se de uma obra tão hermética. Um manuscrito de grande sucesso que teve sua relevância no existencialismo francês durante a euforia do mundo pós-guerra.


Por Claudio Castoriadis 

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

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