Moscou, 27 de setembro de 1867
Acabei de voltar de Borodinó.
Estou muito feliz, muito, com a minha viagem e também com a forma com que a
suportei, apesar da falta de sono e de comida decente. Se Deus me conceder
saúde e tranquilidade, escreverei uma batalha de Borodinó como nunca se viu.
Sempre me exibindo! Sonhei com você na noite que dormi no monastério, e foi um
sonho tão claro que quando me lembro dele é como se lembrasse de algo que
aconteceu de verdade, e penso em você com medo.
Não lhe escrevo os detalhes da
viagem, os darei de viva voz. Na primeira noite viajei cem verstas até Mojáisk
e já perto do amanhecer dormi um pouco na estação; na segunda noite dormimos no
albergue do monastério. Me levantei na aurora, voltei a percorrer o campo, e
durante o dia todo viajamos de volta a Moscou.
Recebi suas duas cartas. Fiquei
triste com o que houve com a Tânia, a mais velha, e senti medo, muito medo pela
pequena Tânia. (Eu a conheço, a vejo e a amo, e temo por ela com essa febre
alta.) Mas o principal é que suas cartas fizeram com que me sentisse bem porque
você está nelas. E você põe o melhor de você nas cartas que me escreve e nos
pensamentos que me dedica. Na vida cotidiana, ao contrário, a aversão e a
predisposição à discussão sufocam isso com frequência. Eu sei.
Pedirei mil rublos a Perfíliev e
serei rico e comprarei para você o chapéu e as botas e tudo o que me pedir. Sei
que vai ficar brava que eu peça dinheiro emprestado. Não fique brava; peço para
gozar de certa liberdade durante essas primeiras semanas do inverno, para não
estar apertado ou angustiado por questões de dinheiro, e para isso tenho
pensado em economizar esse dinheiro o máximo possível e tê-lo só para saber que
está ali, caso precisemos despedir alguém que esteja sobrando ou que não sirva
etc. Você me entenderá e saberá me ajudar. Suas cartas, querida, me dão um
grande prazer, e não me venha com a bobagem de que eu as dou para outras
pessoas lerem.
Aproveitei minha visita a
Borodinó e tive a consciência de estar fazendo o que tinha de fazer; o que eu
não suporto é me ver na cidade, e você diz que eu gosto de me perder pelas
ruas. Não sabe como eu gostaria que você gostasse da aldeia, nem que fosse uma
décima parte do que eu a amo, e que detestasse a vaidade oca das cidades, nem
que fosse uma décima parte do que eu a detesto. Amanhã irei à casa dos Perfíliev
para lhes agradecer, verei Rees, farei compras, e se tiver terminado tudo e
Diákov estiver pronto, partirei sexta-feira pela manhã. Adeus, querida, beijo
para você e para as crianças.
Carta traduzida do espanhol