quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O mundo de Arthur Schopenhauer



Arthur Schopenhauer nasceu em Dantzig, em 1788, de família ilustre, abastada e culta. Após a morte do pai, que o queria encaminhar para a carreira administrativa, dedicou a sua vida ao estudo e à filosofia. Viajou pela Europa toda, conhecendo assim homens e costumes. Em 1813 formou-se e, alguns anos depois, começou a lecionar na universidade de Berlim, onde imperava Hegel; mas o seu ensino, irracionalista e pessimista, não teve êxito em face do racionalismo e otimismo de Hegel.

As universidades ignoravam a ele e a seus livros, como que para comprovar que todos progressos em Filosofia são feitos fora dos muros acadêmicos. "Nada" ofendia tanto aos sábios alemães como Schopenhauer ser tão dissemelhante a eles. Dizia Nietzsche.

O temperamento de Schopenhauer era seu polêmico cartão de visita: Antipático, altivo, impetuoso, arrogante, absolutamente insensível, personalidade forte e palavras amargas. Porém, não podemos negar que o mesmo teve seu charme intelectual que influenciou futuros grandes mestres da filosofia e psicanálise.

A forma como escreveu, o cerne de suas ideias caracterizava sua indiferença em relação às lacunas racionalistas e otimistas nos benefícios do progresso filosóficos. Dessa forma, o que estava em questão no interior das suas críticas era um desejo de libertar o sujeito da camisa de força vestida pela crença em sua individualidade para fundir-se no objeto, em uma entrega pura e plena - sendo uma e única realidade. Tanto Hegel como Schopenhauer consideravam que a individualidade do ser humano tem pouca importância, em Hegel por causa do anseio pelo Infinito, em Schopenhauer por causa da individualidade como sendo uma aparência e uma ilusão.

Ele possuía um sentimento quase que paranoico de grandeza entre outros sentimentos megalomanícos; Certa vez, ainda quando jovem, chegou a dizer “A vida é um grave problema por resolver, e eu quero dedicar a minha vida a resolver este problema” e mesmo com o passar do tempo, continuou com o mesmo sentimento atacando os autores contemporâneos, “seus livros ruins” e “sua busca pelo dinheiro”.

Não alcançando a fama e o sucesso, voltou-se para dentro de si torturando sua própria alma. Jantava, em geral, no Englischer Hof.  Antes do início de cada refeição colocava sempre uma moeda de ouro na mesa, diante dele, e ao fim guardava-a de volta no bolso. Foi certamente algum curioso indignado que por fim lhe perguntou o significado daquele invariável Cerimonial. Schopenhauer respondeu que era uma aposta silenciosa que fazia consigo mesmo, comprometendo-se ele a depositar a moeda na caixa dos pobres no primeiro dia que os oficiais ingleses, também fregueses de lá, falassem de alguma coisa que não fosse cavalos, mulheres ou cachorros.

Para além de sublinhada importância concedida ao pessimismo, pano de fundo da filosofia shopenhaueriana. Podemos questionar tal concepção quando a mesma no leva para uma  espécie de “otimismo prático”, estruturado pela eficiência da sabedoria de vida em nos desviar de certos males. Otimismo onde pode-se incluir a libertação do fardo da vida perante um mergulho na alegria da estética da natureza e da arte, momento sublime de libertação da ferida da existência. Nesse contexto, a arte nos presentea com um descanso da seriedade  do vida.“Séria é a vida, jovial é a arte”, já dizia Schiller. A experiência estética, pois, é um momento beatífico, de iluminação e exuberância

Idoso, agora consagrado como autor de “O Mundo como Vontade e Representação” foi descoberto como grande filósofo pela imprensa inglesa. Vinha gente do mundo todo para vê-lo e no seu septuagésimo aniversário, em 1858, choveram sobre ele congratulações de toda parte e de todos os continentes. Foi comparado ao poeta pessimista italiano Conde Giacomo Leopardi, e recebeu a visita do dramaturgo Friendrich Hebbel e do estadista francês Foucher de Careil. Em 1858 a Academia Real de Ciências de Berlim ofereceu-lhe o título de membro, que ele recusou. No Brasil também encontramos seus admiradores em dois cultudos gênios da nossa literatura: Machado de Assis e Augusto dos Anjos em obras  que muitas vezes ultrapassam as linhas da literatura e filosofia. Reservado, Schopenhauer passou a viver em isolamento, preferindo a companhia dos cães à companhia dos homens. O filósofo morreu em 21 de setembro de 1860, em Frankfurt, de ataque cardíaco.



Por Claudio Castoriadis


Fonte



SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação. Trad. de Jair Lopes Barbosa. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

BARBOZA, Jair. A Metafísica do Belo de Arthur Schopenhauer. São Paulo: Editora Humanitas – FFLCH-USP, 2001.

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

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