O escritor uruguaio Mario
Benedetti (1920-2009) desbravou em vida escritos de teor filosófico e existenciais. Seus
poemas tocaram o tema da morte, da solidão, de sentir a proximidade do fim. “Mario ocupava um lugar muito maior do que ele
mesmo achava”, afirmou certa vez o português José Saramago. Os
amigos se despediram dele com respeito e palavras que, unidas, configuram sua
maestria. “Que será de nós sem sua bondade inexplicável?”, perguntou Eduardo
Galeano.
Poeta, novelista, dramaturgo,
crítico e jornalista, Benedetti pode ser considerado o maior nome da literatura
uruguaia recente. A poesia foi Intrínseca na sua pessoa, nunca parou de escrever, mesmo quando estava gravemente doente.
RESUMO
Resumindo
digamos que oscilamos
entre alegria e tristeza
quase como dizer
entre o céu e a terra
ainda que o céu de agora e o
de sempre
se ausente sem aviso
as ideias vão se tornando
sólidas
sensações primárias
palavras ainda em rascunho
corações que batem como
máquinas
serão nossos ou de outros?
este choro de inverno não é
igual
ao suor do verão
a dor é um preço / não sabemos
o custo inalcançável da
sabedoria
pensamos e pensamos duramente
e uma paixão estranha nos
invade
cada vez mais tenaz
mas mais triste
resumindo
não somos o que fomos
nem menos do que fomos
temos uma desordem na alma
mas vale a pena sustentá-la
com as mãos / os olhos / a
memória
tentemos pelo menos nos
enganar
como se o bom amor
fosse a vida
(Tradução de Denise Mota)
Por Claudio Castoriadis
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |