O professor Koselleck dedicou
cerca de 30 anos de sua vida à elaboração de uma história dos conceitos
(Begriffsgeschichte). Partindo da premissa de que este tipo de história não pode
ser separado da história social, ele investiga os problemas teóricos implícitos
a este campo de pesquisa, particularmente no que se refere às relações entre
linguagem e história.
De forma simplificada, podemos
admitir que cada palavra remete-nos a um sentido, que por sua vez indica um
conteúdo. Porém, nem todos os sentidos atribuídos às palavras são relevantes do
ponto de vista da escrita de uma história dos conceitos. A saber, conceitos
para cuja formulação seria necessário um certo nível de teorização e cujo
entendimento é também reflexivo.
Tomemos, por exemplo, as
palavras Estado (Staat), ou Revolução (Revolution), ou História (Geschichte),
ou Classe (Klasse), ou Ordem (Stand), ou Sociedade (Gesellschaft). Todas elas
sugerem imediatamente associações. Essas associações pressupõem um mínimo de
sentido comum (minimal Bedeutungsgehalt), uma pré-aceitação de que se trata de
palavras importantes e significativas.
Apoiando-nos na análise auto reflexiva, devemos nos
interrogar acerca dos limites e fronteiras que separariam palavras em si
teorizáveis, e acerca de que palavras seriam em si reflexivas. Trata-se na
verdade de uma determinação aleatória.
De forma a melhor ilustrar o esse processo de teorização de um conceito
é necessário um certo grau de
teorização/abstração.
À utilização/emprego de
conceitos (Begriffsverwendung), se mostra uma questão bastante controversa no
interior do debate teórico. Todo conceito não é apenas efetivo enquanto fenômeno
linguístico; ele é também imediatamente indicativo de algo que se situa para
além da língua. Com isso, Koselleck defende a hipótese de que todo conceito é
sempre concomitantemente fato (Faktor) e indicador (Indikator).
Um conceito relaciona-se sempre
àquilo que se quer compreender, sendo portanto a relação entre o conceito e o
conteúdo a ser compreendido, ou tomado inteligível, uma relação necessariamente
tensa. De forma lapidar, o historiador considera teoricamente errônea toda
postura que reduz a história a um fenômeno de linguagem, como se a língua
viesse a se constituir na última instância da experiência histórica. Se
assumíssemos semelhante postura, teríamos que admitir que o trabalho do
historiador se localiza no restrito no pano campo da hermenêutica.
Devemos partir teoricamente da
possibilidade de que em cada uso pragmático da linguagem (Sprachpragmatik), que
é sempre sincrônico, e relativo a uma situação específica, esteja contida
também uma diacronia. Toda sincronia contém sempre uma diacronia presente na
semântica, indicando temporalidades diversas que não posso alterar. E aqui
situa-se o ponto que pode sustentar a defesa de uma história dos conceitos
segundo Reinhart Koselleck: ela pode ser escrita, posto que em cada utilização
específica de um conceito, estão contidas forças diacrônicas sobre as
quais não temos nenhum poder e que se
expressam pela semântica. O eixo dessa analise implica em apontar a forma
ingênua a apropriação dos conceitos , a partir de uma semântica que temos em
nossas cabeças como um a priori.
Por Claudio Castoriadis