segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sapato Jaboticado


Um menino mansa os botões da espiga
Milagres são Inflorescências de Deus 
Debulhando um mundo adâmico

Um bilhete no sapato jaboticado
jabotica perfume de louça mexida

Visto a mesma claraboia 
Tenho por visto mágicas
No bater de asas
Da fé que capina
Os gravetos do ninho
Copados nas árvores

Somos cacimbas
De preces e mandingas
Com duas estrelas nas mãos
Senhoras são capelas e seus
Sorrisos confessionários



Por Claudio castoriadis
Imagem:  Aquasixio - Cyril ROLANDO
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Heidegger: filosofia e poesia


Para chegar à poesia, Martin Heidegger antes correu seu pensamento pelo ser, pelos conceitos "mundo" e "terra" pela "verdade" e pela obra de arte. Curiosamente, uma menção ao filósofo em um livro sobre literatura portuguesa, cujo autor, Fernando Guimarães, em nota, menciona a repercussão do pensamento heideggeriano na cultura portuguesa. Segundo Guimarães, um importante poeta do chamado primeiro modernismo português, Almada Negreiros, mostrou grande interesse pelo pensador alemão, tendo adotado suas ideias filosóficas em seus escritos críticos.

A poesia é para Heidegger a detentora da capacidade de se obter uma experiência – Erfahrung – com o mundo e uma forma de expressar o pensamento negligenciado pela metafísica tradicional do ocidente. Com efeito, quando trata da noção de poesia detalha a linguagem uma vez que ele aponta a poesia como forma de libertar o Ser aprisionado pela sociedade moderna marcada pela técnica e os inúmeros resultados da tradição de pensamento iniciada pela filosofia clássica que escorre até Nietzsche.

Heidegger chega à conclusão de que o Ser vive imerso numa angústia envolta em pessimismo que se concretiza na inautenticidade. É neste ponto que se volta para os grandes poetas alemães como Goethe, Mörike, Stephan George, Novalis, Trakl e principalmente Hölderlin, seu poeta favorito.

Como resultado de suas reflexões, Heidegger se convence de que o rompimento com a tradição metafísica instaurada por Platão e Aristóteles, que já durava mais de dois milênios, é inevitável a fim de que a questão do Ser seja posta com a devida transparência. Assim, Heidegger se volta para os pensadores pré-socráticos, num primeiro momento, notadamente Parmênides e Heráclito de Éfeso, recuperando uma noção de pensar filosófico que considera mais original do que aquele da metafísica tradicional iniciada com Platão e Aristóteles. A cisão entre reflexão e poesia é proposta e fundada nos escritos de Platão, século IV a.C., para quem a matemática e outras formas de saber estavam ancoradas na base sólida do pensamento lógico e racional, devendo a poesia ser relegada a um status inferior.

A clássica definição do homem como ser racional está ancorada em Platão e Aristóteles, mas, sobretudo no primeiro, reforçado com o prevalecimento do homem teórico sobre o homem prático. Instaura-se assim a duradoura e inconciliável separação entre ciência e poesia e o domínio da metafísica na filosofia ocidental

Heidegger ao analisar e traduzir um fragmento de Anaximandro, um dos pré-socráticos, enfatiza que o pensamento é a poesia primordial e anterior a toda poesia. Pensar é poetizar, e, de fato, mais do que uma forma de poetizar. Pensar o Ser é a forma original do poetizar. A linguagem surge primeiramente na linguagem, isto é, em sua essência, no pensar. Todo poetizar, neste sentido mais amplo, e também no sentido mais estrito da poética, é em sua essência um pensar.

O "poeta pensante" é, em verdade, a topologia do ser. É ele quem indica onde mora a sua essência. Pensar, cuidadosamente, requer tempo e, por isso, é fundamental demorar no pensamento, fazer morada é conviver, é estabelecer um processo de intimidade.


Segundo Afonso de castro, estudioso da poesia de Monel de Barros:

Para Heidegger, é a totalidade em que o ser humano está imerso. Ele pré- existe a qualquer noção de sujeito objeto. O mundo é algo pressuposto, já dado. O mundo sendo algo já dado, englobante, está sempre presente e resiste a qualquer tentativa de objetivação. O mundo dá-se a perceber somente junto com as entidades que surgem nele. A compreensão ocorre através do mundo. Segundo Heidegger, mundo e compreensão são partes inseparáveis da constituição do Dasein.

Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852)


 Todos nós saímos de O capote de Gógol

 Dostoiévski

Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852) era um homem repleto de preocupações místicas e patrióticas. Autor de alguns dos contos mais famosos da literatura russa, dentre os quais “O nariz”, “Diário de um louco” e “O capote”, que foi transformado em um dos pontos de partida da dinâmica literária russa por autores como Bielínski e Dostoiévski. Muitos de seus trabalhos foram influenciados pela tradição ucraniana, porém, escreveu em russo e sua obra é considerada patrimônio da literatura russa. Gógol foi singular em sua cultura, referência fundamental para correntes muito variadas da literatura russa, embora inclassificável e sempre inconstante

Muito se tem discutido sobre o estilo de Gógol em determinados grupos literários unificados por tendências ideológicas. Mas, Gógol, diferente de outros grandes escritores do século 19 russo, não formou nenhuma escola de seguidores diretos. A obra de Gógol parece transcender qualquer moldura e submetê-la às mais variadas classificações tem sido a tarefa da crítica ao longo dos séculos.

A literatura russa foi marcada por diferentes tipos de gêneros textuais e por diversos autores que pertenceram a época de Gógol e foram influenciados por ele, assim, tornou-se possível a criação de vínculos harmônicos relacionando e contribuindo para o desenvolvimento de uma estética fantástica.

Obras


    -Almas Mortas
     -O Nariz
    -O Capote
    -O Inspetor Geral
    -O Retrato
    -O Diário de um Louco
    -Avenida Niévsky



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Margaridas, versos e palavras domesticadas


Espelho não edita imagem, reflexo de pensamento é o joio que abastece a fuga do presente, no traste do lápis,

Vós pergaminhos saudosos de felicidade, vendo e torneando nuvens voadoras, passeando os olhos  na perfectibilidade, tornaram-se, águas de março enrijecidas onde se lavam margaridas, versos e palavras domesticadas

Assim picota o tempo, a luz amanhece, desloca peremptoriamente o ato ficcional da ausência,  flana, confecciona veracidade divina, conquista o mar, tão longe triunfa no deserto, revela acintosamente um desejo incontrolável pelo frescor da não pertença.

O silêncio é silenciador, alguma coisa quando silencia, tem um agrado sabor de vento desgrenhado, parece reza nos dias de chuva sacudindo os galhos da laranjeira, sobre as telhas, sucos de trovões, focinhando rasuras e arranjos tácitos. 



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Certamente somos fieis à selvageria nossa de cada dia


Não é de hoje essa onda indecorosa e repugnante moralista- trocar uma dor por outra: a vingança que faz do egoísmo a regra dominante  das relações humanas. A reação colérica frente ao prejuízo deliberado de uma pessoa sobre a outra virou uma rotina estupidamente comum no alivio simbólico de alguém amarrado, apedrejado, pela sociedade.

O preço de ser no mundo não é barato; temos que viver o instante e evitando dores físicas, arrependimentos e frustrações; temos a obrigação de quem pensa, buscar a justiça, mesmo que seja complicado; é um dever que se impõe, tanto pela razão quanto pela emoção dolorosa que machuca. A razão, mesmo sendo um paradigma, serve para termos consciência da realidade, evitando que os homens se coloquem em perigo, evitando que o nada do absurdo contamine o mundo.

Segundo Sêneca a origem da vingança está na esperança, na capacidade humana de ter expectativas irreais sobre o mundo, em um conflito entre um mundo desejado e o mundo que se apresenta.

Falando no bem, segundo os textos bíblicos, após revelar os mandamentos, Deus instruiu o povo hebreu sobre a condenação aos infratores segundo a lei de talião:

Olho por olho, dente por dente. Lembrete, a punição ao injusto, nesse caso, que aliena a vítima não é regida pelo direito da vítima, como imagina o senso comum, mas pela infração aos mandamentos do próprio Deus. A vingança só pode ser operada pelos justos, os obedientes a Deus, a quem a divindade delega esse poder.

Nessa esteira não está em jogo a felicidade da vítima ou do povo, afinal, a vida terrena é fruto de um castigo essencialmente infeliz do pecado no Jardim do Éden (que em hebraico significa ''jardim das delícias''), da felicidade eterna do qual o homem justo e temente a Deus deseja.

Ainda nesse contexto a ideia de justiça gruda na consciência do homem como a representação de um sentimento. Sua origem, porquanto, não está ligada à consciência abstrata, mas a “um impulso” o qual seria, mais precisamente, a um contra ataque, pois corresponderia a uma resposta a um estímulo anterior, como é o caso, por exemplo, de uma agressão.

Eis algumas questões: é correto esperar pela justiça dos homens?  Buscar a vingança por motivos sagrados e pessoais glorifica o tipo humano? A quem interessa a glorificação? Problema complexo; uma vez que no Brasil existe aquele jeitinho brasileiro. Epicuro ( um marginal) certa vez afirmou: "a vingança é a justiça do homem em estado selvagem"

Triste fim, certamente somos fieis à selvageria nossa de cada dia.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Na fumaça do boêmio: malandragem e intumências

Nunca fui mais que um boêmio isolado,
o que é um absurdo; ou um boêmio místico,
o que é uma coisa impossível.
(Fernando Pessoa)


O mistério da vida coincide dentro de um estalo crescente que atravessa a ribanceira do ontem enquanto germina o amanhã refratário, o sonho acordou pulando na fumaça do boêmio que fumava acordado encostado na madrugada sem horário. Arregaçando o bigode úmido chegou sem aviso prévio com malandragem e intumências de quem deita no colo da mesa. Escurecido pelas sombras das moscas vitroladas nas sobras do gosto tirado pra dançar; desbravou conversas banguelas na boca da nota seresteira que exalava água na saideira. Pouca luz chorada pela vida do carteado, embaralhando a falência múltipla dos metaforizados, sonetos estelionatários, cantadas perdidas, velhas valsinhas, vadia é vasilha da vida, na qual o quotidiano descarrega o apito da fábrica de extrair bobagens. 


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

O PRIMEIRO HOMEM - IL PRIMO UOMO: adaptação do livro inacabado de Albert Camus

Em que reside o absurdo do mundo? Nesse resplendor ou na lembrança de sua ausência? Com tanto sol armazenado na memória, como fui capaz de apostar no absurdo? Isso provoca o espanto de algumas pessoas que me rodeiam; também eu sinto-me surpreso em certos momentos.

Albert Camus

Numa coprodução entre França, Itália e Argélia, Gianni Amelio adapta ao cinema o livro póstumo de Albert Camus que retrata uma viagem de cariz autobiográfico do próprio autor. Albert Camus estava trabalhando neste livro quando um acidente automobilístico lhe tirou a vida em 1960. A obra retrata a Argélia e a infância do autor e explora temas como o absurdo da morte.

Regressemos à Argélia dos anos 50, onde franceses e árabes se debatem pela liderança do país. Ao país regressa Jacques Cormery, um dos mais reconhecidos escritores da época. O filme viaja ao passado e retrata o crescimento do escritor, proveniente de uma família humilde e que a inteligência vai levar mais longe.

Toda a ação da infância é mostrada de uma forma bela, a um ritmo fluido e que dá vontade de acompanhar. Sentimos uma identificação natural com a criança que foi Cormery e vamos percebendo a sua identificação para com o país, que no presente é posta em causa.

Depois voltamos ao presente e a um território em que as diferenças culturais se transformaram numa guerra entre povos. A Argélia é um país onde todos lutam pelo valor de uma pátria em que acreditam, independentemente do que isso possa trazer. Cormery, que estava ausente em França, é encarado como um estrangeiro, contudo o escritor cresceu argelino e sente-se argelino. Jacques Cormery vai ter de provar aos outros, mas acima de tudo a si próprio, a sua ligação à terra que o viu crescer.

A nível estético, o filme não merece outra palavra que não seja genial. Todas as cenas são compostas de uma beleza visual como há em poucos. A forma crua e real que traz vai desde a infância à guerra que se encontra em aberto nos anos 50. Cada cena é pensada e filmada ao pormenor, com detalhes que mostram a excelência do filme.








quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tolstói - Pacifista e Educador


Com uma vida pessoal conturbada e personalidade intrincada por referências literárias e místicas, Tolstói aproximou-se, naturalmente, de uma posição pacifista, anarquista e misticismo libertário recusando toda forma de governo e poder. Para complicar, foi perseguido e excomungado pela Igreja, seus últimos anos foram de engajamento social. Seus escritos impetuosos influenciaram o surgimento de grupos e uma corrente de anarquismo cristão, reinterpretou o cristianismo de forma singular, aproximando-o de uma perspectiva anarquista. Em sua crença, o homem só deveria obedecer a sua própria consciência, através do autoconhecimento. Desse modo, Tolstói idealizou a formação de comunidades agrárias, onde prevalecesse a igualdade, o amor e a solidariedade.
 
Engajado como militar nos anos 1850, sob a influência de um irmão, em Sebastopol, escreveu, nesse período, contos que revelam sua visão da guerra com algo irracional, capaz de mostrar o melhor e, especialmente, o pior da humanidade.
 

Depois de ter residido em Moscou e Kazan e frequentado dois cursos universitários - Línguas Orientais e Direito -, ambos abandonados apesar do bom rendimento, fundou uma escola na pequena propriedade rural de Iásnaia Poliana.

A questão escolar na Rússia foi um preocupação constante de Tolstói a ponto de ter afirmado, numa de suas cartas, que poderia morrer em paz se duas gerações de crianças russas aprendessem as primeiras letras nas cartilhas que escrevera, das quais receberiam também as primeiras lições poéticas. Depois de procurar se informar sobre métodos educativos,
fundou em suas terras uma escola, destinada aos filhos dos servos da Iasnaia Poliana. Nascia uma experiência absolutamente nova, livre de vícios autoritários da educação do século 19. Tolstói tornou-se, assim, um marco para o pensamento pedagógico progressista.  Pode-se perceber que o russo foi um ferrenho defensor da liberdade no processo educacional, pois acreditava que somente ela é capaz de desenvolver a personalidade do aluno, o seu lado criativo e de fazê-lo tornar-se até mesmo o próprio tutor.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Recordações da Casa de Amêndoa

As árvores e flores, as espigas de trigo e as moitas de avelã falavam comigo,
 cantei com elas suas canções e elas me compreendiam,
 exatamente como lá em casa

Sonho de uma Flauta; Hermann Hesse

Confinado, no difuso e desconfortável prazo de validade, o garoto faz de um todo, algo infinitamente vago. Desde que o universo abafou seu firmamento, debaixo daquela amêndoa, o mundo, sua tenda, da qual milhões de dilúvios encharcados consolidam um ribeiro intercalado; improvisa belas declamações bagunçadas da seiva que inunda os cantinhos do seu paraíso. Sua tenaz sensatez desabotoa sonhos com Alzheimer que dão vazão ao clarão da estrela arrancada do seu ninho reaprendendo a voar, caminhar nos trilhos alinhados no chão onde desenha outro espaço qualquer.

Como tudo começou? Como alguém chegou tão longe? Quando o dia sucedeu a noite, um segredo desmontou um vilarejo, cadenciando e cuidando, terá sido assim? Sucedeu - se dessa maneira? Um dia antes do fim, começando retrocedendo, confessando-se no conto, aceitou um pensamento, semente de crônica, clonado no intervalo do vento bambolento?

Seja metáfora, mentira
chafurdada, o garoto minguou para um mundo silencioso e alheio, onde o sol parece que foi escanchado no céu delgado, as nuvens foram varridas, o calor pega um resfriado espirrando nas horas cotidianas, flores são pássaros que brotam com um erguer de ombros, nesse lugar, as bobagens alçam vôo pintando de alegria as praças colorindo os velhinhos. O garoto vive brincando com suas dúvidas, todo dia se perde contando os dedos, muito provavelmente seus brinquedos brincam com o seu coração e na casa de amêndoa suspira sua oração plantada ao pé da roseira beijada por engano pelo lerdo que tencionava beijar uma flor. 


Por Claudio Castoriadis
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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Memórias Póstumas de um Cigarro


A reflexão diante da cinza de um cigarro, é algo triste. Tomado como andrógino instrumento de alívio, desponta entre os dedos queimados um modelo de uma vida tranquila e delicada, digna do seríntimo que floresce da nicotina nas veias do corpo cinzeiro. Na sedução das imagens literárias trafegando na fumaça baforada, criamos um mundo calmo e pacífico, de vez em quando faz-se presente um pranto de tensão; característica polêmica do fumante solitário, tragado pelas circunstâncias atenuantes da vida. Pensando bem, respirando, inspirado  nessa fumaça, polaridades e divergências do mundo se concentram na ponta de um cigarro. Basta aquela tragada, o destino da vida é verticalidade, queimar-se para cima, ao alto. E tornar-se piúba, quem sabe uma bituca. Ser um cigarro é realmente uma coisa triste, fundamentalmente sem sentido. À proporção que somos tragados, os caminhos vão ficando curtos, o gosto mais amargo, e, antes de chegarmos ao fim, perdemos tanta coisa de nós mesmos, de tanto e tanto somos despojados, das nossas substâncias. Por sorte, sou o último da carteira, com orgulho o cheiro do mal acordado, sim, também sou o perfume barato com que os miseráveis tentam disfarçar suas dores e odores.



Por Claudio Castoriadis
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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Crise existencial de um palhaço sem pão, circo e paçoca


Para um bom entendedor, um pouco de silêncio basta. É quase uma máxima, ou proposição da boca de quem cala quando o dizer descarta uma pressa por legitimar suas reviravoltas e revoltas do cotidiano. Sei bem ( duvidando) dessas coisas que resvalo em segredo - apenas eu, outrem, outro eu - compreendo minhas escolhas. Paratriquiando uma breve problemática - eu escolho? Ou a escolha me escolhe? Não tenho propriedade, mas, sou privatizado, meus sentimentos foram plastificados, colonizados, liquidados em liquidação, estou na rua, a rua é um caminho público, mas, não tenho público? Falta uma lar pra reformar, reforma agrária não é piada pra ser contada, essa conta tem valor, os grilhões da minha graça, a tenda da minha existência.


Debaixo desse sorriso falha uma gargalhada, uma comoção, diálogo prodigalizando: uma conversa em ação seria conversação? Sou personagem coadjuvante, um figura falando água molha o nome malhado? De onde vem o discurso volta a confusão? Confúcio era confuso? Incongruências acotovelam dúvidas. 

Eu sou um palhaço, assim eu sou, assim me acho, sou eu aqui falando, sou eu pensando, quando não estou, ausência, quando sou, vou sendo, na verdade eu já era eu antes de ser quem penso - matutando, pipocando acrobacias na mente, pinçando no picadeiro, sou eu o dia inteiro, pedaço, um palhaço, doando colo ao agradável, unindo o útil ao  biodegradável,  fazendo chover estrelas-do-mar, constrangendo do sol o seu brilho cor de marmelada, embrulhando divertidamente devassidão gráfica. 


Por claudio Castoriadis
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