quinta-feira, 31 de julho de 2014

canção pra dona maria


sinhá maria 
miranga no sertão
quando fala dilata pelos serões

cospe no chão
paço mascado

no dorso amurado das veredas
pássaros cricrilam suas feridas

abraça o mundo com sua franja
semeia da noite a borra do café



Por Claudio Castoriadis
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segunda-feira, 28 de julho de 2014

tamancaria


o dia esverdinha no pequizeiro 
rasteja por entre a tamancaria 
estende sua amplidão cedinho

o gosto do café
reanima sonhos
sob aquele som
o bico da calma

há quem duvide
de lugares assim

dessas flores do nosso cachoeiro
o milho cozido à sombra do balaio
a vida alinhada que nem um pomar 


Por Claudio Castoriadis
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sábado, 26 de julho de 2014

o barqueiro de veneza

com poucos barcos
se faz um mar
uma barca

talvez com bem menos uma poça
trêmula ao cântico do gondoleiro

pelos cafés onde tomam suas refeições
os senhorios se enrolam na madrugada
ladeados ambos por olhares tamisados

compreendi isso a partir dos olhos encolhidos
na fímbria matizada onde os dias são âncoras


Por Claudio Castoriadis
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quinta-feira, 24 de julho de 2014

a praça do sarau


de um verso que se demora
reconheço a alma do corpo
ou qualquer coisa da gente

no sarau a poesia tropicália
vigora quicando seu gosto

pessoas adjetivam casas
o vento sonora a sonata
do candeeiro branquelo

bancos passeiam com safenas
sem perder de vista sua praça
nem tão pouco os brinquedos
os velhinhos com suas damas


Por Claudio Castoriadis
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Ulisses e Nausícaa

não
definitivamente
não é possível prever as coisas

o leque abrangente da beleza
em meio a uma série de acontecimentos
descortina das palavras biografias sentimentais

tudo que é bom começa se mordendo por dentro
perfeitamente circunscrito no coração saindo pela boca
abençoando o mundo assim como Ulisses amou Nausícaa


Por Claudio Castoriadis
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segunda-feira, 21 de julho de 2014

canteiro de aruanda


juntos
somos um
canteiro de aruanda

um espaço para dois
no mesmo mormaço

peixinhos estacionados
no congestionamento

um embrião
desbordante
de bendições

matéria prima suspensa no ar
carvão, peito de aço, petróleo  



Por Claudio Castoriadis
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quarta-feira, 16 de julho de 2014

langue e parole


no início era o verbo que se fez coisa. 
a coisa personificou qualquer palavra.

delicadamente sinestésica
com informações cognitivas

logo mais, exclamou uma letra
quase gritando para outra em
sentido contrário:

—Ó céus! Semântica se manca. O significante
não tem mais o mesmo significado. 



Por Claudio Castoriadis

segunda-feira, 14 de julho de 2014

lerdo Maneco Lerdo


desbrincar gorjear despreguiçar
na bronca da língua uma palavra
outrora palavrinha pechisbeque.

um lago alarga o ar augure
e quietinha ausência
transborda poça d água

meu perdiz sem cor
encalha no incolor

abri o pensamento vendo uma formiga
exportar uma lua no mundo de alguém

só vendo desalento deslizando
desaparecendo desparecendo
solitário o sol quente se pondo

(luz esgarçada
estrela ladrilhada)




Por Claudio Castoriadis
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domingo, 13 de julho de 2014

poema de lareira


minha vida entrosa detalhes
tira de letra 
do pássaro para a árvore
lembranças esmaecidas
em câmera lenta.


quando plantei minha casinha
de um copo d'água alcancei
uma prece haste florida
fui barro e aquarela
pintura rupestre
areia debruçada
no chão aquietado
sândalo porejando abobrinhas.


na ruazinha trançada pela sombra das paineiras
mostrei meus sonhos mais singelos para vizinhança.



Por Claudio Castoriadis
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sábado, 12 de julho de 2014

verborrágico


deixai que os ridículos enterrem seus lírios
na mesma linha onde prosam conceitos 

o clamor verborrágico invoca
sofre
como sofreria um Deus
desconversa
com eloquência de frigideira
com lógica badalada e cascuda

enfia seus dedos nos ouvidos
retira algo de bonito
qualquer coisa que se eleve ao desfrute
desses tais erros ortográficos que sobram
deixando aquele charme no cantinho dos lábios.



Por Claudio Castoriadis
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

notas para desenrolar um ninho


não é nada fácil ser um pássaro molenga
voar dentro das minhocas
reacender
o verão com poucos galhos
sustentar minhas penas penando com meu bico.
um dia, hei de mudar- me
pianinho, de maneira amiúde
deixarei meu ninho
com tudo empilhado numa rosa de crochê
e vou morar no aconchego de um bandolim


Por Claudio Castoriadis
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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Enzimátzscico




quando o mundo passar 
ainda teremos a brandura 
do esquecimento.

a dor será dispersa
as pulsões sublimadas
o medo desenganado

o corpo enzimático
espuma cartilagem

como se tivessem pulmões  
as nuvens respiram minha carne
esmagam meus ossos 

daquilo que um dia foi 
aproveitam-se faianças feldspáticas
o som do fim dedilhando elementos percussivos

dormíamos
lá adiante com calma explodimos 



Por Claudio Castoriadis
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