sexta-feira, 29 de agosto de 2014

atadura


da cumbuca 
uma voz murcha
o grito ungido de veias
alavanca meus tímpanos

flageladas as ideias se enrugam
viscoso, o calçado esquenta a calçada
o mendigo mete com a língua no estômago
de joelhos apanhando pratas, catando do esgoto
a soberba da velhice curva suas costas, ainda de joelhos
um sorriso escorre das ataduras, pula para longe da sua couraça


Por Claudio Castoriadis
imagem fonte web

sábado, 23 de agosto de 2014

o homem dos ratos


devo aos outros minhas dívidas
perdão pelos meus olhos
o luto seco

na vala, ruidosa
a magreza da carne viva
ossos abrindo feridas na superfície
o vislumbre da lâmina cortando o assunto 


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

a conspiração das cadeiras

parecia um iceberg
o cobertor flutuando do lugar
novelos sussurrando no seu sono 
cajueiros ondulantes tremendo pelas tamancas
atalhos voltando e rebatendo, aqui onde afunda a manha
vês, que não era uma manada, mas um decoro de consolações
um sotaque atende refrescando a memória, tramando no vapor da valsa
há de ser o vento espiando por cima do muro, entre os tufos
a conspiração das cadeiras

Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

sábado, 16 de agosto de 2014

paineira


ela sorri odorosamente, acenando com a mão
descendo cordilheiras de lembranças
e esquece uma montanha
na boca do meu
estomago
minimamente
derrama partes voluptuosas
do seu corpo molhando uma boa quantidade
de pessoas, bem agasalhadas, que passavam pela calçada

Por Claudio Castoriadis
Imagem: Goro Fujita Artist

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

nicotina


do ralo 
uma palavra desalinha 
um punhado de átomos no chão

volvendo
de um giro para o outro
a volta da matilha em torno do livro

nicotina
o meu lugar é dentro
da brisa onde a noite faísca
salivando a madrugada com cafeína



Por Claudio Castoriadis
Imagem fonte web

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

cânticos e pontapés


a paixão não tem gosto de sangue
quando seu timbre rendeiro
despondera

meu bem querer é imortal
o estandarte leva- me pelo brasão
minha prosa não tarda à refletir-se
do ventre

assim
na baixa do arranha céu
aos cânticos e pontapés
o barranco veste meu chocalho
sonorizando imagens no seu batuque


Por Claudio Castoriadis
Imagem : fonte web



sábado, 9 de agosto de 2014

canção retorno para um velho jedi


braços torados
com a mão no bolso
um cigarro em cada dedo

vejo o buraco
no asfalto do chão
sem passar nos meus olhos

meu marca passo
não precisa de querosene
pra rebobinar corações genéricos

faço movimentos interrompendo o tráfego
espirro educadamente destilando cachaça
tasco do rádio uma boa média de roedeira
saio de cena caçoado sem conhecer plateia


Por Claudio Castoriadis
Imagem: SubWars



domingo, 3 de agosto de 2014

reflexões do sótão


a vida pulsa melanina
hemoglobina
neoplasia


dos olhos
arranca a cegueira
cafunga os moveis com cupins

alimenta o rato que entranha
no queijo e se aglutina na boca

agasalha
um punhado de bagatelas
e matéria turva do sótão sem fazer ruído



Por Claudio Castoriadis
Imagem fonte web

sábado, 2 de agosto de 2014

lembranças de um formigueiro


quando eu era formiga
eu andava com outras formigas
da minha laia

tinha apreço invertebrado
pelas coisas indetectáveis

desconstruía calhaus gradeados
com meu calcanhar de gravetos

amava sentir no meu raquítico coração  
a certeza que arquejava pelas migalhas


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web


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